ARTE, RELIGIÃO, SEXUALIDADE E HOMOEROTISMO. A CAPELA SISTINA.
Em tempos de acirrada discussão sobre sexualidade e homoerotismo na arte e açodamento dos defensores da moral e dos bons costumes, por que não começarmos por uma análise honesta do erotismo e do homoerotismo representados nos próprios recintos da Igreja Católica? Por que não começarmos pela residência dos Papas no Palácio Apostólico, onde está a Capela Sistina, locus sagrado para a escolha do representante de Deus na Terra? Por que não começarmos por interrogar Michelângelo e os seus afrescos obscenos compostos para a Capela Santa?
É certo que o complexo projeto de Michelângelo suscitou paixões que se digladiaram: De um lado, aqueles que se encantaram com o divino transfigurado em carne, pulsões e sangue. De um outro lado, aqueles que protestaram bramindo que os nus dos afrescos, incluindo o de Jesus, eram imorais e antidogmáticos e que as pinturas na Capela seriam muito mais apropriadas às profanas termas e tabernas. Uma forte onda de puritanismo levou, inclusive, o Papa Paulo IV a chamar um dos assistentes de Michelângelo, Daniele de Volterra, para cobrir as partes pudendas das imagens.
Apenas em 1980, a pura pintura de Michelângelo voltou a ser revelada ao mundo, após um árduo e longo trabalho de restauração. E assim, os afrescos da Capela Sistina voltaram a ser os afrescos da Capela Sistina: carne, sangue, erotismo, homoerotismo, sublimação, imanência, transcendência e santidade. Compreensíveis apenas para os que têm Fé.
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