domingo, 15 de maio de 2016

                                        O Mais Profundo é a Pele
                                                                  Andrea Campos



I.


Quando nada mais nos reste a fazer
Que possa evitar essa paixão desesperada,
Leve-me para a praia, dia de chuva
E tire-me para dançar,

Não importa se ao som de Jobim,
Baker, 
Piazzola, 
Deixe as notas penetrarem a insensatez
Do ritmo que deságua do desejo em
Nós dois.

E no teu corpo molhado sentirei
O calor inflamar envolto em gotas,
Serei naufrágio em teus braços.

Beije-me tal como me descobriste,
Por primeira vez,
Menina, arisca e indecente,
Não temas ficar quando a música termine,
Eu não partirei, nunca mais.

Quando nada mais nos reste a fazer
Que possa evitar essa paixão desesperada,
Leve-me para a praia, dia de chuva
E tire-me para dançar.
Não se assuste se não sentir mais areia molhada,
É que de nossos passos emerge
Fumaça de nuvem prateada.




II.

Com as unhas
percorro
milhas sem milhas
de ti sem fim,
faço incisões,
sequestro a tua pele,
sugando teu sangue,
vai latejando a vida,
navalha de ti em mim.



III.

Brisa e fúria,
o nácar explode
de teu gesto
adestrado,
treme o dia
e sou eu
que transbordo
de teu olhar
naufragado.



IV.

Não, hoje eu não quero o verso,
só quero o reverso
da chama em teus dedos
compondo a trama
de minha pele
sem medos.



V.

Flechas de fogo disparo,
buscando acender
o teu olhar
e vestida de vento
te conduzo aonde
se borra o batom,
aonde eu sou todo
o teu mar,

Enredada nas emoções
que sonhaste
em tua última viagem,
disparo em teus ouvidos
os sons de meu corpo
em paisagem.

E te convido a fazer-me
concreta, suor, carne e sal,
até que em tempestade
eu me desfaça
e redima o teu deserto
abissal.

Ao desfaleceres, és oásis
onde seivo a minha boca,
e pesco o teu abandono
e sou anjo e sou louca.

Renascido dessa invasão,
liberto de mim,
tua carne se esvai
tênue e trêmula
nos teus passos
enquanto amordaço
a tua alma
que arde e inflama
nos meus braços.