segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

LANÇAMENTO DO LIVRO "DIREITO & LITERATURA: IMAGENS DO FEMININO". 


O lançamento teve lugar durante a XXIII Conferência Nacional da Advocacia Brasileira em São Paulo em 28.11.2017.






Com o Presidente da OAB/SP, Dr. Marcos da Costa.

Apresentação de meu livro feita pela Conselheira Estadual da OAB/SP. Dra. Maria da Graça Pereira.

Com Dra. Alcenilda Pessoa da OAB/SP e curadora da Conferência Nacional.














https://www.youtube.com/watch?v=cI9pCoMPbFk

terça-feira, 4 de julho de 2017

E a escultura "O Beijo" de Rodin, originariamente, fora nomeada como "Paolo e Francesca", mais exatamente, "Francesca de Rimini". Logo, "O Beijo", foi o seu segundo nome de batismo. Mas, quem foram Paolo e Francesca? Existiram, de fato?
Sabemos que a obra "A Divina Comédia" de Dante Alighieri, cujo nome original, inclusive, é "A Comédia", trata-se de uma crônica de costumes com forte acento político sobre a sociedade florentina do séc. XIV. Dante era político e fora expulso de Florença sob acusações de corrupção. Por dez anos, durante o seu tempo no exílio. escreveu a sua magna opera e esperava, em razão dela, ser anistiado pela Igreja e, por fim, voltar à sua terra natal. Isso nunca ocorreu. Dante morreu no exílio sem que jamais repousasse seus olhos, novamente, sobre a sua cidade, Florença.

Mas, voltemos a Paolo e Francesca. Eles, de fato existiram, e existiram ao tempo de Dante, foram seus contemporâneos. Paolo e Francesca viveram um caso trágico de adultério. Francesca era casada com o irmão mais velho de Paolo que, ao saber do romance entre ambos, assassinou-os. As almas de Francesca e de Paolo foram, então, para o Inferno e é no Inferno que são encontradas por Dante e o seu guia, o poeta Virgílio. Essa história está narrada no Canto V do tomo da obra dedicado ao "Inferno". Como o assassino ainda vivia em 1300 (o ano em que se passa a ação do poema), Francesca roga no verso 107: “Caïna espera por aquele que nos tirou a vida” . Caína é a área no nono círculo para onde vão os violentos contra seus parentes. Paolo e Francesca foram arrastados por uma paixão luxuriosa, mas no inferno, descobriram que foram levados um aos braços do outro em razão de um amor sublime.


Fico pensando sobre o porquê de Rodin haver rebatizado a sua esplêndida escultura. Seu nome anterior revelaria algo de sua própria história?rs



terça-feira, 20 de junho de 2017

Notas sobre Musicologia e Gênero: Por um Erotismo escrito nas Estrelas.




Estava nos tempos das aulas de piano, quando, apercebido de meu interesse em História, o meu professor sugeriu que eu lesse "História da Música Ocidental" de Grout e Palisca. É um livro poético, até porque a música, em seus primórdios, confundia-se com a poesia. Mas o que mais me embeveceu foi descobrir que para muitos pensadores gregos, a música estava ligada à astronomia, ou seja, dialogava com as estrelas. Ptolomeu, o mais sistemático dos teóricos da música na antiguidade, foi também o maior astrônomo de seu tempo. Platão, no esteio dessa ideia, concebeu o mito da "música das esferas", aquela composta pela revolução dos planetas, das estrelas, para a qual os seres humanos não teriam capacidade de ouvir (não resta dúvida que Platão não conheceu Olavo Bilac...rs). Mas, voltemos ao nosso assunto que é sério e eu não vou "perder o senso" rs. O fato é que a música, na concepção grega, orbitava-nos tangida pelo vértice das musas. Musas que guardavam a origem de seu signo e de seu sentido na sua forma adjetivada. Diante de tamanha transcendência, como tocar a chave da imanência musical? Como descobrir-lhe a sexualidade, ou, do alto de sua alta sublimação, a música teria o sexo dos anjos? O próprio Platão em sua República nos faz inferir que a música traz em si, fortes elementos femininos, uma vez que, segundo o filósofo, um excesso de música, tornaria os homens "efeminados". Tomando emprestado de Nietzsche os termos "dionisíaco" e "apolíneo" de seu "O Nascimento da Tragédia", e associando a sua concepção com a de Platão diríamos, então, que a música seria a expressão máxima de um gozo feminino. 

No entanto, a musicologia tem sido, desde sempre, androcêntrica. Quando, em um trecho musical se fala em tempos fortes, estes são considerados “masculinos”, enquanto que os tempos fracos são considerados, por excelência, “femininos”. O caráter masculino na música exsurgiria nos temas de abertura: enérgicos, heroicos, enquanto que o caráter feminino moraria nos temas subsidiários, flexíveis. Na música, também estão presentes processos procriativos, com clímax e resolução da expectativa, tensão e relaxamento, numa clara metáfora do encontro sexual. No entanto, há, desde sempre, uma forte resistência em inocular, na musicologia, esse caráter libidinal, mais ainda, quando se trata de música clássica, cujo princípio é o de ser a música das estrelas. A essa resistência em face da libido, corresponderia a resistência da musicologia em face do feminino. A presença das mulheres na música, segundo musicólogas mulheres, revelaria a correspondência entre a música e o poder erótico. A mulher na música, seja como instrumentistas, compositoras, regentes, ou as notas femininas em um pentagrama, não como "fracas" ou "subsidiárias", mas em seu fulgor extasíaco, liberaria uma corrente de prazer e desejo que desafiaria a cientificidade da musicologia, deslegitimando-a enquanto ciência.

Mas, tamponar essa corrente de prazer e desejo é obstruir o que pode fazer a música mais ainda resplandecer em amor e vida.


Que a música, então, abra as suas notas, também, para o dionisíaco, para a força intensa e inesgotável do fluxo feminino transformador, para o eros transcendente que arrepia e faz piscar o feminino inominável. Assim, diríamos a Platão, se queres ouvir a música das estrelas, amai, femininamente, dionisiacamente, para entendê-la, "pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas".

quarta-feira, 24 de maio de 2017

"A psicanálise é interessante para se ver onde, nas maiores belezas, há coisas terríveis. Há o desejo, a morte, a crueldade, o mal, a doença. É o avesso, a outra face da moeda. Você tem, por exemplo, dois modos de ver Botticelli: ou você vê a primavera, a Vênus, tudo isso é muito lindo; ou vai um pouco mais longe e lembra que o nascimento da deusa é uma história aterrorizante. O sexo de um deus que foi cortado e cai no mar, com sangue e esperma."

Georges Didi-Huberman citado por Virgínia Leal in Facebook.

Se for psicanalisar, de fato, a obra de Sandro, a partir de seu desejo, verificaremos que a modelo para a sua Vênus é a mulher que ele amou até a morte, tendo escolhido, inclusive, ser sepultado a seus pés: a bela Simonetta Vespucci. Simonetta já estava morta havia nove anos, quando ele pintou o quadro. Ela era a sua Vênus, para ele, a representação de todo o Amor. Se a tinta do pintor fecunda a tela como um amálgama de seu sangue e de seu esperma, como uma mistura de paixão e promessa de vida derramados do falo de seu pincel, pincel-falo cortado de seu corpo e solto no mar, mar que é o sexo feminino na criação, com essa tinta Botticelli pintou não o nascimento, mas o renascimento de sua Vênus. Com a obra de arte, ele devolveu à Simonetta, o ar da existência. Ar soprado por Zéfiro, ninguém menos do que ele mesmo, esculpindo-lhe a vida. Integrados, portanto, todos os seus elementos: deuses, sangue e esperma, amor e vida, concha, mar e falo, a tela é de uma beleza inefável. Sob qualquer perspectiva.


Andrea Campos


quarta-feira, 19 de abril de 2017

O  David de Michelângelo é uma obra-prima de arte sacra, encomendada pelo Papa Júlio II ao escultor Michelângelo durante o seu pontificado (1503-1513). A magnífica estátua que retrata o herói bíblico David antes de enfrentar o gigante Golias foi esculpida em um único bloco de mármore carrara e é considerada a obra-prima do renascimento, símbolo, até hoje, da cidade italiana de Florença. A Igreja Católica, que encomendou a estátua, nunca a considerou indecente. Pelo contrário, o Papa exigiu que Michelângelo esculpisse um David, totalmente nu e não circuncidado, a fim de criar um David "católico" e não judeu. Por óbvio que é uma escultura religiosa que jamais existiria no protestantismo. 








terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

RADUAN NASSAR: O FILHO PRÓDIGO
                               Andrea Almeida Campos






Raduan Nassar é o maior escritor de ficção brasileira na contemporaneidade. O vigor semântico que colhemos em seu texto é um empuxo delirante ao imaginário. Deslizamos em seu corpus discursivo como quem segue, descarriladamente, rumo a um gozo em abismo. Lê-lo é receber, num clímax, jatos léxicos em golfadas respingando nos olhos. A literatura de Nassar é a que mais e melhor me coloca em face dos conflitos e da essência do masculino, leio-o sempre em posição de embate com esse corpus masculino em riste, vulnerável e nu. Li toda a obra já publicada de Nassar, que é curta: os dois romances "Lavoura Arcaica" e "Um Copo de Cólera" e os seus contos. Nassar recebeu o Prêmio Camões, o mais alto Prêmio concedido a escritores de língua portuguesa. Nassar que abandonou a literatura desde os anos 80 para recolher-se a uma vida telúrica, substituindo as incursões pela ancestralidade da palavra, às incursões pela ancestralidade da terra. Abandonou a literatura e se exilou na zona rural paulista. Diz ele que a abandonou não apenas como escritor, mas também, como leitor. E como isto nos fascina, nós que somos fascinados pelo simbólico, enredados em nossa dependência incontornável aos signos e aos seus desvarios. Raduan Nassar passou, então, a ser o nosso Rimbaud verdeamarelo, um Atlante literário com seus enigmas indesvencilháveis. Ele abandonou a literatura como o seu personagem André em Lavoura Arcaica abandonou a casa paterna. Mas assim como André, ele retorna à casa "arcaica" em um dia de festa, sendo a atual festa, a destinada a receber o seu tão merecido prêmio. Assim como André ele ressalta os seus conflitos com a casa paterna (o Estado Brasileiro atual) e, dentro dele, as suas paixões incestuosas encarnadas em suas próprias contradições. Encarnadas em seu prêmio, objeto de desejo incestuoso que se lhe oferece, tal como a irmã do personagem André, Ana, se lhe oferece em sua festa de retorno ao lar paterno. Assim como André, Raduan Nassar tece o seu libelo contra um "Pai" autoritário e que ele tem por desarrazoado. Por sua vez, o Ministro, que ali representa o "Pai", ao invés de aparar as arestas e amortecer a fala sofrida do filho pródigo, que é como o fazem os pais ao receberem de volta os seus filhos, acolhendo-os com suas generosidades, acirra o conflito, desferindo-lhe agressões nessa discussão que é, no fundo, uma discussão parental profunda. Passado o fato, tudo se discute, menos a Literatura Brasileira em seu dia de festa. Essa que é permanentemente golpeada e tem seus pedaços lançados à invisibilidade. Somos eternos carentes de reconhecimento de nossa qualidade literária. Ao mesmo tempo, parece que apenas nos sentimos à vontade em comemorarmos carnaval e futebol. Quanto às produções intelectuais, preferimos nos recolher à nossa eterna face da derrota. Passadas as discussões políticas em torno do evento, ou até mesmo, paralelo a elas que de forma alguma podem ser silenciadas, é hora de nos darmos o prazer de comemorarmos a obra do nosso maior escritor de ficção vivo. Está na hora de nos rejubilarmos com a nossa Grande Literatura. Está na hora de nos livrarmos dessa inexcedível culpa e assumirmos, sem medo, os nossos gozos e a nossa possibilidade de gozar intelectualmente cada vez mais, mais e mais. A literatura brasileira não pode ser sempre esse grande feto enredado em si mesmo, e que nós, bêbados de cólera, insistimos em golpear em contra-palavras o seu nascer pra o mundo. "Queiram ou não queiram os juízes", Nassar nasceu pra o mundo e, mais que tudo, queira ou não queira o seu Pai, legítimo ou ilegítimo, assim é o nosso Raduan Nassar que, de uma vez por todas, nasceu e nasceu pra sempre.