terça-feira, 31 de março de 2015

LEDA E O CISNE (W. B. Yeats)

https://www.youtube.com/watch?v=mfl-XSjpj88




Súbito golpe: as grandes asas a bater
Sobre a virgem que oscila, a coxa acariciada
Por negros pés, a nuca, um bico a vem reter;
O peito inane sobre o peito, ei-la apresada.
Dedos incertos de terror, como empurrar
Das coxas bambas o emplumado resplendor?
Pode o corpo, sob esse impulso de brancor,
O coração estranho não sentir pulsar?
Um tremor nos quadris engendra incontinenti
A muralha destruída, o teto, a torre a arder
E Agamêmnon, o morto.

Capturada assim, 
E pelo bruto sangue do ar sujeita, enfim
Ela assumiu-lhe a ciência junto com o poder,
Antes que a abandonasse o bico indiferente?
Os belos instrumentos musicais do período barroco (Séc. XVII):
https://www.youtube.com/watch?v=g450xQAsLUQ


Orquestra Barroca em torno do Cravo

Orquestra Barroca

Viola da Gamba

Viola da Gamba, Virginal e Cítola


Cítola (Cítara)


Viola da Gamba

Nem nobres, nem vadias. Vermeer, em suas telas, lança luz às mulheres que trabalham, às mulheres que, com suas faculdades, habilidades e talentos, protagonizam a vida.




domingo, 29 de março de 2015

Mãos na cabeça e olhos arregalados... Onde mais "repousa"  o desespero existencial? No "O Grito"(1893)  de Edvard Munch ou no "O Desesperado"(1841) de Gustave Courbet? O fato é que Courbet já antecipava o expressionismo na pintura...


Em saudosa homenagem ao poeta português HERBERTO HELDER, encantado no último dia 24 de março, cantemo-lo:

Gustave Courbet
Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra 
e seu arbusto de sangue. Com ela 
encantarei a noite. 
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher. 
Seus ombros beijarei, a pedra pequena 
do sorriso de um momento. 
Mulher quase incriada, mas com a gravidade 
de dois seios, com o peso lúbrico e triste 
da boca. Seus ombros beijarei. 

Cantar? Longamente cantar. 
Uma mulher com quem beber e morrer. 
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave 
o atravessar trespassada por um grito marítimo 
e o pão for invadido pelas ondas - 
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes. 
Ele - imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento 
de alegria e de impudor. 
Seu corpo arderá para mim 
sobre um lençol mordido por flores com água. 
https://catracalivre.com.br/recife/agenda/gratis/mostra-exibe-curtas-dirigidos-por-mulheres-no-cinema-da-fundaj/


Amanhã, a partir das 19 horas, estarei participando de debate após a exibição de curtas na Mostra "Cinema de Mulher" no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco em Recife. A mídia  tem me veiculado como "cineasta", mas sou apenas uma pesquisadora em questões de gênero rs. Espero os que estiverem em Recife e que possam ir, a entrada é livre e o debate vai pegar fogo (o cinema tem seguro rs) !!!!

sexta-feira, 27 de março de 2015

"Ser possuída ao máximo.
Sempre quis isto.
Ninguém alcançou a imensidão de minha oferta:
O máximo do êxtase-aniquilamento,
o silêncio das zonas sensitivas".

Patrícia Galvão in "Paixão Pagu"
Roberto Ferri
Estão todos convidados para a abertura do programa de atividades literárias do SESC- Santa Rita em Recife, hoje, às 19 horas! Estarei participando do projeto na Mesa " A Barca dos Encantados"

quinta-feira, 26 de março de 2015

"Eu a tenho em mim agora como alguém a proteger. Ela está envolvida em perversidades e tragédias com que não consegue lidar. Finalmente captei sua fraqueza. Sua vida está cheia de fantasias. Quero forçá-la a voltar à realidade. Quero lhe fazer uma violência. Eu, que estou afundada em sonhos, em atos semivividos, vejo-me possuída por uma intenção furiosa: quero agarrar as mãos evasivas de June, ah, com que força levá-la a um quarto de hotel e realizar o sonho dela e o meu, um sonho que ela evitou enfrentar toda sua vida".

Marie Laurencin
Anais Nin in "Henry e June"
Dois quartos: O de Van Gogh em Arles e o de Egon Schiele em Neulengbach. Talvez parecidos, nunca desaparecidos.

Gustav Klimt
"It is marvellous to wake up together"   (Elizabeth Bishop)

It is marvellous to wake up together
At the same minute; marvellous to hear
The rain begin suddenly all over the roof,
To feel the air suddenly clear
As if electricity had passed through it
From a black mesh of wires in the sky.
All over the roof the rain hisses,
And below, the light falling of kisses.

An electrical storm is coming or moving away;
It is the prickling air that wakes us up.
If lightning struck the house now, it would run
From the four blue china balls on top
Down the roof and down the rods all around us,
And we imagine dreamily
How the whole house caught in a bird-cage of lightning
Would be quite delightful rather than frightening;

And from the same simplified point of view
Of night and lying flat on one’s back
All things might change equally easily,
Since always to warn us there must be these black
Electrical wires dangling. Without surprise
The world might change to something quite different,
As the air changes or the lightning comes without our blinking,
Change as our kisses are changing without our thinking.




"É maravilhos despertar juntas"

É maravilhoso despertar juntas
No mesmo minuto; maravilhoso ouvir
A chuva começando de repente a crepitar no telhado,
Sentir o ar limpo de repente
Como se percorrido pela eletricidade
Numa rede negra de fios no céu.
No telhado, a chuva cai, tamborilando,
E cá embaixo, caem beijos brandos.

Uma tempestade está  chegando ou indo embora;
É o ar carregado que nos desperta.
Se um raio caísse na casa agora, desceria
Das quatro bolas azuis de porcelana lá no alto,
Se espalhando pelo telhado e os para-raios a nossa volta,
E imaginamos sonhadoras,
Que a casa inteira, uma gaiola de energia elétrica,
Seria muito agradável, e nada tétrica.

E do mesmo ponto de vista simplificado
Da noite, e de estar deitadas,
Todas as coisas poderiam mudar com igual facilidade,
Pois por esses fios elétricos negros
Seríamos sempre alertadas. Sem surpresa,
O mundo poderá virar algo muito diferente.
  Tal como o ar muda ou o relâmpago cai sem piscarmos,
Como estão mudando nossos beijos sem pensarmos.




BISHOP, Elizabeth. Poemas escolhidos de Elizabeth Bishop. Seleção, tradução e textos introdutórios de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.


terça-feira, 24 de março de 2015

11.

Litania
Nós nunca nos realizamos.
Somos dois abismos - um poço fitando o Céu. 

Fernando Pessoa in "Livro do Desassossego"
Tela de Magritte
271.

Não o amor, mas os arredores é que vale a pena...  A repressão do amor ilumina os fenómenos dele com muito mais clareza que a mesma experiência. Há virgindades de grande entendimento. Agir compensa mas confunde. Possuir é ser possuído, e portanto perder-se. Só a ideia atinge, sem se estragar, o conhecimento da realidade.

Fernando Pessoa in "Livro do Desassossego"
Tela de Magritte

segunda-feira, 23 de março de 2015


Chove sobre Buenos Aires

Chove sobre Buenos Aires
E o teu corpo esquia
Por entre as esquinas
Salpicado de bruma e desejo.

De tua calça encardida
Brota um azul prateado
Marinho e fluvial.

Vem, meu amor,
Derrete a tua pele
Na minha
Deixa ser este encontro
O enlaçar
De línguas ardentes
E doídas,

Nesta mescla de salivas
E suor pluvial,
Sejamos úmidos,
Aquáticos,
Uma só água
A fazer abrir sinais fechados,
A tornar navegáveis
Ruas esquecidas,
A reinventar
Calor dos ventres
Nos cafés abandonados,

Rondemos as avenidas,
Os parques,
Todos molhados,

Sejamos esta chuva que cai
E desperta fantasias
Mortas e adormecidas,
Oblíquas e consumidas.

Chovamos em uníssono
Essa chuva que chove
Sobre Buenos Aires.

Andrea Campos in "Olhos sobre Tela", Ed. CEPE.

Tu vinhas (PABLO NERUDA)
Tela de Marc Chagall


Não me fizeste sofrer,
Mas esperar.

Aquelas horas 
emaranhadas, cheias 
de serpentes,
quando 
minha alma se esvaía e me afogava,
e tu vinhas andando,
tu chegavas desnuda e arranhada,
tu chegavas sangrando a meu leito, 
noiva minha,
e então 
toda noite caminhamos 
dormindo
e quando despertamos 
eras intacta e nova,
Como se o vendaval grave dos sonhos
outra vez acendesse 
fogo à tua cabeleira
e em trigo e prata submergiste todo 
teu corpo até deixá-lo deslumbrante.

Não sofri, amor meu, 
sozinho te esperava.
Precisavas mudar de coração 
e de olhar.Depois de haver tocado a mais profunda
zona de mar que te entregou meu peito,
tinhas que sair da água, 
pura como uma gota levantada 
por uma onda noturna.

Noiva minha, tiveste 
que morrer e nascer, eu te esperava.
Não sofri te buscando, 
sabia que virias,
uma nova mulher com os encantos que adoro,
os mesmos de alguém que eu não adorava,
os teus olhos, as mãos, a tua boca,
só que com outro coração,
que amanheceu a meu lado
como se sempre houvesse estado ali
para seguir comigo para sempre.

É assim que te quero, amor...
Tela de Marc Chagall
 (PABLO NERUDA)

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.
É com muita honra e especial emoção que participarei de Mesa Literária sobre a minha tia-bisavó, Edwiges de Sá Pereira, no evento "Barca dos Encantados" a convite do SESC-Santa Rita. Edwiges de Sá Pereira foi poeta, ensaísta, educadora, jornalista e ativista feminista em finais do Séc. XIX e inícios do Séc. XX.. Foi a primeira mulher a ter uma cadeira em uma Academia de Letras no mundo ocidental, na Academia Pernambucana de Letras.
Junto a Bertha Lutz integrou o movimento pelo sufrágio feminino. Em sua homenagem, posto, aqui, com alegria e orgulho, um poema dela:

OLHOS VERDES

Teus olhos verdes eu fito
Mas logo depois não sei
Se foi do excelso infinito
Divina estrella que olhei.
É que teu olhar encerra
Tanta graça e tanta luz
Que eu penso não ser da terra
O brilho que me seduz!...
Teus olhos, flor adorada,
São de um poder soberano:
E a gente os fita enlevada
Qual se contemplasse o oceano...
Não é que nelles escondas
Essa perola do mar,
Mas toda a attração das ondas
Tu tens guardada no olhar!
Eu nesse olhar adivinho
- Como a chimera vagueia! –
Candura de passarinho
Fascinação de sereia!...
O canto sonho do poeta
Nas noites claras de lua,
Semelha a chamma dilecta
Que nos teus olhos fluctua...
Formosa é sempre a esperança,
Pois vês teus olhos querida,
Têm a cor desta ave mansa
Que tece os sonhos da vida!...
Se pudessem teus olhares
Ver toda a immensa amargura
Do mundo eu via os pesares
Transformados em ventura...
Das almas tristes chorosas,
O pranto num doce riso,
A vida – num mar de rosas,
A terra num paraíso!...
Coração que em magoas perdes
A vontade de viver
Procura estes olhos verdes
Que te renasce o prazer!  
                             Edwiges de Sá Pereira
Publicado na revista O Lyrio, nº 5, de 1 de março de 1903, Recife/PE

domingo, 22 de março de 2015

Impressionante, como o Renascimento na arte no Séc. XVI, foi também, o renascimento, se é que um dia ele já havia estado presente, do êxtase na arte. E na arte sacra, diga-se de passagem. Aqui, dois geniais representantes desse fenômeno na arte: Michelângelo com seu "Escravo", que hoje está no Louvre, mas originariamente, foi feito para ornar uma sepultura, e o nosso não menos querido Bernini com as suas duas " O Êxtase de Santa Teresa". Ambas estão, ainda, expostas em Igrejas.




O ardente amor de Vênus e Marte na interpretação dos imensos da Escola de Veneza, Alto Renascimento Italiano, Séc. XVI: Tintoretto, Ticiano e Veronese.


Evento de encerramento da Semana Mundial de Francofonia na Aliança Francesa do Recife com o Diretor da Aliança Francesa, Adrien Lefèvre e o Cônsul-Geral da França em Recife, Bruno Gisson. O Diretor me propôs que, para o próximo ano, fizéssemos uma Semana Recifense de Poesia Francesa. Será uma parceria entre a
Aliança Francesa e o FestLatino que presido!

Ton Corps

Ton corps est une ville
de mille maisons
où je cherche
mon destin perdu.

Mon passé est une rue 
interdite,
Mais s'il y a une route
vers l'avenir,
dans cette direction
c'est écrit ton nom.

Je me mouille
sous les fontaines
qui dansent
sur les jardins
de ta peau.

Elles sont de Trevi,
elles sont de Fredda,
elles sont ta langue
suçant ma langue,
ainsi je parle
le langage du monde
(dans ton corps il y a
un fleuve
où je plonge
le plus profond).

Un mélange
de paysage,
toi dans moi,
moi dans toi.

Ton corps est une ville
qui ne finit pas.

Andrea Campos

quinta-feira, 19 de março de 2015







O Palácio de Katharina em Saint Petersburgo, Rússia, construído, inicialmente, por Pedro, o Grande, como presente a sua esposa Katharina I, transformou-se no Palácio dos Palácios nas mãos de Katharina II, sendo a sua fachada de estuque dourada nada mais, nada menos, do que com mais de 100 kgs de ouro. O salão de âmbar é uma de suas muitas e conhecidas preciosidades. O Palácio foi totalmente destruído durante a 2a Guerra Mundial, tendo sido devolvido à humanidade em 2003, após ser minuciosamente e maravilhosamente restaurado.

segunda-feira, 16 de março de 2015

"Impression: Soleil Levant", o quadro de Claude Monet que inaugurou o Impressionismo, emprestando-lhe, inclusive, o nome. Mas não é no Museu dos Impressionistas que o encontramos, no Musée d'Orsay, mas sim, no intimista Musée Marmottan, dedicado à obra de Monet, também em Paris.