O PECADO ORIGINAL: A INAUGURAÇÃO DA HUMANIDADE POSSIBILITADA PELA VONTADE DE SABER DO FEMININO.
domingo, 31 de janeiro de 2021
E JÁ ESTAVA LÁ NO ANTIGO TESTAMENTO: A PRESCRIÇÃO DA VACINA.
terça-feira, 26 de janeiro de 2021
"OS ANOS QUE VIVEMOS EM PERIGO" E COMPELIDOS A PRODUZIRMOS MAIS, MAIS E MAIS...
OLHAR DE DENTRO, OLHAR DE FORA.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
"ROSA E MOMO": SOPHIA LOREN , ALTIVA, POTENTE E BELLA ÀS VÉSPERAS DOS 90 ANOS DE IDADE.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2021
BRIDGERTON: AFINAL, HOUVE UMA RAINHA NEGRA NA INGLATERRA OU TUDO NÃO PASSA DE UMA AÇÃO AFIRMATIVA FEITA EM FICÇÃO?
terça-feira, 12 de janeiro de 2021
O QUE UMA EPIDEMIA TEM A VER COM A ORAÇÃO DA AVE MARIA?
sábado, 9 de janeiro de 2021
ESTÉTICA DO BEM E DO MAL:
VOCÊ REZARIA EM UMA CAPELA NA QUAL BOLSONARO REPRESENTASSE UM SANTO?
O que pouco hoje se fala é sobre os escândalos causados por Michelângelo na confecção das paredes e do forro da sacra Capela Sistina. Corpos desnudos, sensuais e erotizados representando os santos e o próprio Jesus. Figuras públicas corruptas e de má-fama transitando entre os anjos. Em razão de suas ousadas blasfêmias, Michelângelo foi obrigado a, ao menos, vestir os santos. Quanto às figuras de moral duvidosa da época, hoje, as suas efígies passam por nós desapercebidas e diante delas podemos até, inadvertidamente, nos ajoelharmos, uma vez que não as conhecemos. E é sob as outrora tintas do escândalo que há muito se fazem os conclaves e se escolhem os Papas.
Mas, esse introito foi apenas para mostrar que houve uma tradição renascentista na qual às representações de arte sacra, compareciam não apenas as figuras do bem, mas também personagens, contemporâneos da época, malquistos.
E foi, talvez, tentando reeditar a melhor tradição renascentista que o artista baiano, Carlos Bastos, contratado para pintar os afrescos da Capela de São João Batista no Parque da Cidade do Rio de Janeiro, em 1972, durante os anos de chumbo da Ditadura Militar, após semanas trancafiado no templo, apresentou à Arquidiocese, as figuras da Santa Maria tendo ao seu colo o pequeno São João com o rosto de Caetano Veloso, e em seu acolhimento celestial, santos representados por Dorival Caymmi, Di Cavalcanti e Emílio Garrastazu MÉDICI! Como nenhuma tradição pode ser emulada pela metade, a concepção divina de Dante se fez presente e a obra constou de dois afrescos, um finalizado, representando o paraíso e outro, ainda inacabado, representando o purgatório. Não é preciso dizer que a capela foi dessacralizada e nela não se podem celebrar missas.
Mas, aí é que entra algo que é muito peculiar da tradição Católica: Nem tudo que é condenado, sobretudo, artisticamente, é destruído. Embora não mais templo religioso, a Capela se mantém para os céus erguida e os seus afrescos, preservados intactos e sempre restaurados. E protegidos sob um véu. Mas, nunca sob a história.
Com a CELEUMA suscitada pelas PÉTALAS da DIVA de JULIANA NOTARI, lembrei-me dos CUIDADOS sacros com as PARTES do DAVI de MICHELÂNGELO.
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A despeito dos livros queimados pela Inquisição, parece-me ser incontroverso que a Igreja Católica sempre foi a maior mecenas do mundo das artes plásticas em todos os tempos. Basta evocarmos toda a arte que transborda na Capela Sistina e nos Museus Vaticano para confirmarmos essa tese. Basta reportarmo-nos àqueles dias quando, a um só tempo, Michelângelo pintava o forro da Capela Sistina e, a algumas portas ao lado, Rafael era o artífice dos afrescos que iluminariam os aposentos papais, dentre eles o da Escola de Atenas.
Durante a Missa do Galo no último Natal, quando, então o Papa beijou a representação singela do menino Jesus, esse beijo ecoou na face de todos os artistas, não apenas dos Da Vincis e Giottos, mas também na daqueles que ergueram o atual e polêmico presépio que resiste no centro da Praça de São Pedro. Presépio com figuras a la Botero intergaláctico. Não preciso dizer que, às críticas e insultos ao presépio, o Papa Francisco fez ouvidos de mercador.
Mas do Papa Francisco, volto-me ao Papa Julio II em inícios do século XVI. À época, na República de Florença, a Igreja dispunha de um imenso bloco de mármore de Carrara na qual deveria ser confeccionada a figura bíblica do pastor Davi. A intenção era de que a escultura decorasse, em conjunto com a de outros profetas, incluindo a do profeta Josué já esculpida por Donatello, o contraforte da Catedral de Santa Maria del Fiori. Inicialmente, a obra foi encomendada a Duccio que a abandonou após a morte de Donatello. O Mármore restou vinte e cinco anos intocado até que as autoridades eclesiásticas contrataram para refazer a estátua, o então jovem artista Michelângelo.
Por ordens do Papa Júlio II, o Davi deveria ser esculpido totalmente nu, uma vez que a sua única armadura foi a Fé em Deus. O Sumo Pontífice, então, fiscalizou, diuturnamente, a confecção das partes do profeta, com o cuidado de que, de modo algum, Michelângelo ousasse representá-las na forma circuncidada, afinal, tratava-se de um Davi católico e não de um Davi judeu.
Após dois anos, uma vez, finalizada a obra-prima, debatia-se onde a mesma deveria ser instalada. Sandro Botticelli defendia que a estátua, com a sua beleza e suntuosidade deveria ficar dentro da Catedral, outros advogavam pelo projeto original, qual seja, diante da Catedral. O voto vencedor foi de que o Davi deveria ficar em praça pública, diante do Palácio do Governo na Piazza della Signoria, uma vez que na estátua estava representado não apenas o profeta, mas o cidadão florentino com a sua afirmação da liberdade e o seu destemor em face a Golias.
Quatro séculos depois, com fins de melhor preservação, a escultura foi transferida para o interior da Galeria da Academia de Belas Artes. Mas, o povo de Florença não aceitou que a praça ficasse "nua" e uma cópia do Davi foi esculpida a fim de continuar a adornar e a emanar vitalidade e força ao povo florentino. Sim, pois é disso que se trata: vitalidade e força. As mesmas que emanam da escultura feita a céu aberto pela artista Juliana Notari. Aquela obra de arte que representa o portal que atravessamos para chegar ao mundo e que assusta tantos homens não apenas pelo poder que tem de trazê-los à existência, mas de levá-los sempre de volta ao paraíso. A nudez feminina apenas é suportada enquanto objeto das fantasias masculinas, nunca como expressão feminina de poder. Menos ainda se essa representação tem como autora, uma mulher.
Talvez os puritanos que se dizem tão religiosos e apedrejam as Divas e os Davis, devessem melhor observar as palavras de Deus nas Escrituras. Segundo essas palavras, o homem foi feito à sua imagem e semelhança. E nessa semelhança incluem-se as partes e as pétalas.
E para representar o que há no mundo de mais sagrado, existe a arte, que tem o condão de, desde o mundo, possibilitar que se toque o céu. Para tanto, que sejam artisticamente incensados o aroma de partes e de pétalas: Urbi et Orbi.