quinta-feira, 8 de setembro de 2022

 AMIZADE: A MAIS ÉTICA DAS RELAÇÕES


Assim como nos inebria conhecer os grandes amantes na história, delicia-nos descobrir quais foram os grandes amigos através dos tempos. Não apenas delicia-nos como nos comove.


A amizade não apenas é a mais ética das relações como nos diz Francesco Alberoni em seu indispensável livro "A Amizade", mas deve ser a base para a continuidade de toda e qualquer relação, inclusive as de amor-paixão, além de ser a mais desinteressada (se for por interesse não é amizade).


Os amigos estão juntos por um único e só motivo, não porque vão a festas juntos, ou trabalham juntos, ou são de um mesmo partido ou agremiação: Mas porque se gostam. E se respeitam. 


Há amigos cujos nomes até se misturam como é o caso de Marx e Engels, ou se transformam em um só nome como o do "escritor" Ellery Queen que nada mais é do que o heterônimo dos dois primos Nathan e Manior. Mas, encanta-nos, mais ainda, quando descobrimos grandes amizades entre grandes escritores e grandes pintores. 


Os escritores os citam, de alguma forma, em seus livros, já os pintores são mais explícitos e os retratam.


Eis aqui uma pequena galeria de grandes amigos pintores e escritores: Édouard Manet e Émile Zola. Eugéne Delacroix e George Sand, Giotto e Dante Alighieri, Honoré Daumier e Victor Hugo e Claude Monet e Guy de Maupassant. 


No mais, resta-nos citar Montaigne ao ser indagado sobre o porquê de sua grande amizade com o então já falecido filósofo La Boétie. O autor dos "Ensaios" assim respondeu: "Porque era ele". Foi quando ao cabo de anos, aditou: "Porque era ele, porque era eu".










O diálogo como espaço privilegiado não apenas para a busca da verdade, mas para o encontro da PAZ. 


O ATEU, OS TRÊS SÁBIOS E A DAMA


O belíssimo texto apologético "O Livro do Gentio e dos Três Sábios" escrito em 1274 na Baixa Idade Média por Raimundo Lúlio, um europeu que apenas escrevia em árabe, narra um belo diálogo/debate imaginário entre três sábios e um ateu. 


O desolado e melancólico ateu encontra-se próximo à  morte e deseja saber a verdade sobre Deus e os seus caminhos. Dirige-se, então, ao bosque do conhecimento onde mora a bela e formosa Dama. Esta Dama era a "Inteligência". Antes de o ateu chegar ao Bosque, para lá já haviam se aproximado os três sábios religiosos, cada um com seus respectivos credos: O primeiro era Judeu, o segundo era Cristão e o terceiro era Islâmico. A Dama, ciente dos conflitos e das guerras entre as religiões, explica aos sábios a metafísica da natureza e o significado de cada letra que sopra o aroma da justiça e da tolerância nas belas flores daquele jardim. Dirige-se à fonte e em suas vestes diáfanas ensina aos sábios o mistério que é guardado em cada árvore: Elas não são imóveis, apenas caminham para o alto e nesse caminho, oferecem a todos, sem distinção, os seus frutos e as suas sombras. Após a sua amorosa e assertiva preleção, a Dama parte, deixando sozinhos os três sábios.


É quando chega o ateu moribundo, coxeante e de olhos baixos em sua angústia existencial. Os sábios, antes de iniciarem o debate diante do ateu, pactuam que serão regidos e iluminados em seus diálogos pelos ensinamentos da Dama. Cada um deles, então, passa a expor a sua religião pela ordem de aparecimento de cada uma delas por sobre o Planeta: Primeiro o Judeu, depois o Cristão e por fim o Islâmico. Dialogam sobre a Trindade e sobre a Salvação. Debatem sobre as Cruzadas e as Guerras. Os ânimos ficam acirrados, mas nesse momento, param e por instantes, antes de se agredirem, silenciam. O ateu a tudo assiste e estremece e chora na desesperança de conhecer a Verdade. Entrementes que o debate se encerra e os três sábios se dão as mãos, a Dama aparece ao ateu e o toma em seus braços. Os olhos do ateu brilham e resplandecem. Fulgurantes, a Dama e o ateu desaparecem para além do bosque em forma de Luz. 


Diante do corpo morto do ateu, os sábios abraçam-se e pedem perdão um ao outro para se acaso se tiverem dito alguma palavra vil que tenha ferido a Lei de cada uma de suas religiões. E voltam para os seus templos em Paz.


No outro dia, no Bosque, entre as fontes e sob as árvores, cavalga a formosa Dama. Seus ensinamentos serão sempre revelados. Mas, nunca o seu Mistério.