quinta-feira, 30 de abril de 2015

Em homenagem ao DIA DO TRABALHO, releituras de nosso querido VINCENT VAN GOGH sobre o "trabalho" do grande FRANÇOIS MILLET, finalizando com mais uma obra-prima de cada um.


François Millet. Ele foi além da proposta da "Escola de Barbizon".

Vincent - Adoro como ele faz do sol um dos personagens do quadro... Afinal, o sol é o maior dos semeadores!

François Millet - O amarelo-ocre do feno dá à tela um humor amarelo-ocre...

Vincent - Não apenas as camponesas, tudo, absolutamente tudo, está em movimento...

François Millet



Vincent



François Millet


Vincent

François Millet                                        Vincent

François Millet                         Vincent

François Millet                                                                      Vincent

François Millet


Vincent

Vincent
François Millet

François Millet                                                                            Vincent

François Millet - O Ângelus. Pausa no trabalho para a prece à Ave Maria. Sublimamente poético.

Vincent - Após o trabalho, a acolhedora refeição. Aos trabalhadores, as batatas!
Soneto do Amor Total (Vinícius de Moraes)


Amo-te tanto, meu amor... não cante 
O humano coração com mais verdade... 
Amo-te como amigo e como amante 
Numa sempre diversa realidade 

Amo-te afim, de um calmo amor prestante, 
E te amo além, presente na saudade. 
Amo-te, enfim, com grande liberdade 
Dentro da eternidade e a cada instante. 

Amo-te como um bicho, simplesmente, 
De um amor sem mistério e sem virtude 
Com um desejo maciço e permanente. 

E de te amar assim muito e amiúde, 
É que um dia em teu corpo de repente 
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Egon Schiele

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Soneto do Maior Amor (Vinícius de Moraes)

Maior amor nem mais estranho existe 
Que o meu, que não sossega a coisa amada 
E quando a sente alegre, fica triste 
E se a vê descontente, dá risada. 

E que só fica em paz se lhe resiste 
O amado coração, e que se agrada 
Mais da vida eterna aventura em que persiste 
Que de uma vida mal-aventurada. 

Louco amor meu, que quando toca, fere 
E quando fere vibra, mas prefere 
Ferir a fenecer – e vive a esmo 

Fiel à sua lei de cada instante 
Desassombrado, doido delirante 
Numa paixão de tudo e de si mesmo. 
Soneto da Mulher ao Sol (Vinícius de Moraes)


Uma mulher ao sol - eis todo o meu desejo 
Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz 
A flor dos lábios entreaberta para o beijo 
A pele a fulgurar todo o pólen da luz. 

Uma linda mulher com os seios em repouso 
Nua e quente de sol - eis tudo o que eu preciso 
O ventre terso, o pelo úmido, e um sorriso 
À flor dos lábios entreabertos para o gozo. 

Uma mulher ao sol sobre quem me debruce 
Em quem beba e a quem morda e com quem me lamente 
E que ao se submeter se enfureça e soluce 

E tente me expelir, e ao me sentir ausente 
Me busque novamente - e se deixa a dormir 
Quando, pacificado, eu tiver de partir...
IV - A Água "Os Quatro Elementos" in Livro de Sonetos
(Vinícius de Moraes)

Alyssa Monks
A água banha a Amada com tão claros
Ruídos, morna de banhar a Amada
Que eu, todo ouvidos, ponho-me a sonhar
Os sons como se foram luz vibrada.

Mas são tais os cochichos e descaros
Que, por seu doce peso deslocada
Diz-lhe a água, que eu friamente encaro
Os fatos, e disponho-me à emboscada.

E aguardo a Amada. Quando sai, obrigo-a
A contar-me o que houve entre ela e a água:
-Ela que me confesse! Ela que diga!

E assim arrasto-a à câmara contígua
Confusa de pensar, na sua mágoa
Que não sei como a água é minha amiga.


Fragonard


Ausência (Vinícius de Moraes)



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. 

No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. 

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. 

Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada

Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. 

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.

E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. 

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. 

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

"Quero dizer com isto, Sancho, que o desejo de alcançar fama é ativíssimo. Quem pensas tu que atirou com Horácio Cocles da ponte abaixo, armado com todas as armas, nas profundidades do Tibre? Quem abrasou a mão e o braço de Sœevola? Quem impeliu Cúrcio a arrojar-se ao ardente vórtice que apareceu no meio de Roma? Quem, contra todos os agouros, fez passar a Júlio César o Rubicão? E com exemplos mais modernos, quem afundou os navios e deixou em terra e isolados os valorosos espanhóis, que o grande Cortez guiava à conquista do Novo Mundo? Todas estas e outras façanhas são, foram e hão-de ser obras da fama, que os mortais desejam como prêmio e antegosto da imortalidade que os seus feitos merecem, ainda que os católicos e cavaleiros andantes mais havemos de atender à glória dos séculos vindouros, que é eterna nas siderais regiões, do que à vaidade da fama, que neste presente e mortal século se alcança, a qual, por muito que dure, enfim há-de acabar com o próprio mundo, que tem o seu fim marcado. Assim, ó Sancho, não saiam as nossas obras dos limites que nos impõe a religião cristã que professamos. Matando os gigantes, matemos o orgulho; combatamos a inveja, com a generosidade; a ira, com a placidez de um ânimo tranquilo; a gula e o sono, com as curtas refeições e as longas vigílias; a luxúria e a lascívia, com a lealdade que guardamos às que fizermos senhoras dos nossos pensamentos; a preguiça, com o andar por todas as partes do mundo, procurando as ocasiões que nos possam fazer e nos façam, além de cristãos, gloriosos cavaleiros. Vês aqui, Sancho, os meios por onde se alcançam os extremos de louvor que traz consigo a boa fama?"

Miguel de Cervantes in "Dom Quixote De La Mancha". Trecho do Capítulo VIII, Vol.2, págs. 68 e 69. Martin Claret, 2007.
Picasso

domingo, 26 de abril de 2015

RENASCENÇA FRANCESA: JEAN FOUQUET (ÉCOLE DE LA LOIRE) E ÉCOLE DE FONTAINEBLEAU




Jean Fouquet

École de Fontainebleau

École de Fontainebleau

École de Fontainebleau
                                                        A Onça


Meu amor corre incessante ao abismo,
Por instantes paro, calculo e cismo,
Circulando como a onça enjaulada,
Presa no cio, vontade acorrentada.

Sigo pisando em pétalas de vidro,
O sangue escorre tênue de minh'alma,
Dos olhos brotam o fogo e o hidro
Que me molha e por momentos me acalma.

E na corrida deste amor que é meu fim,
Rumo ao abismo, preparando o bote,
Impulso me faz saltar, ai de mim!

Felina, engulo na saliva, o mel...
Nele despenco pra que a dor se esgote
E me transforme em migalhas de céu.

Andrea Campos



sábado, 25 de abril de 2015

20.


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: «A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros à distância.»

O vento desta noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis e por vezes ela também me quis.

Em noites como esta apertei-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me quis e por vezes eu também a queria.
Como não ter amado seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Que importa se não pôde o meu amor guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Para tê-la mais perto  meu olhar a procura.
Meu coração procura-a,  ela não está comigo.

A mesma noite  faz brancas as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a quero, é certo, porém quanto a queria!
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a quero, é certo, mas talvez a queira.
É tão curto o amor e tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta a tive nos meus braços,
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes versos os últimos  que eu lhe tenha escrito.


Pablo Neruda in "20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada".
Vincent



sexta-feira, 24 de abril de 2015

https://www.youtube.com/watch?v=t4N5-OALObk

O Poema de Friedrich Schiller que inspirou Beethoven a compor "Ode à Alegria". É esse poema que é cantado pelo coral durante a Sinfonia. Magnificat!

Beethoven
Ode à Alegria (Friedrich Schiller)

Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!

Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Eliseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir |
O que o costume rigorosamente dividiu. 
Todos os homens se irmanam 
Ali onde teu doce voo se detém. 
Schiller

Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo. 
Mas aquele que falhou nisso 
Que fique chorando sozinho! 

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e 
Um amigo leal até a morte; 
Deu força para a vida aos mais humildes 
E ao querubim que se ergue diante de Deus! 

Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.

Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora.



An Die Freude (Friedrick Schiller)



O Freunde, nicht diese Töne!
Sondern lasst uns angenehmere anstimmen
und freudenvollere!

Freude, schöner Götterfunken,
Tochter aus Elysium,
Wir betreten feuertrunken.
Himmlische, dein Heiligtum!
Deine Zauber binden wieder
Was die Mode streng geteilt;
Alle Menschen werden Brüder
Wo dein sanfter Flügel weilt.

Wem der grosse Wurf gelungen
Eines Freundes Freund zu sein,
Wer ein holdes Weib errungen,
Mische seinen Jubel ein!
Ja, wer auch nur eine Seele
Sein nennt auf dem Erdenrund!
Und wer's nie gekonnt, der stehle
Weinend sich aus diesem Bund.

Freude trinken alle Wesen
An den Brüsten der Natur;
Alle Guten, alle Bösen,
Folgen ihrer Rosenspur.
Küsse gab sie uns und Reben,
Einen Freund, geprüft im Tod;
Wollust ward dem Wurm gegeben,
Und der Cherub steht vor Gott!

Froh, wie seine Sonnen fliegen
Durch des Himmels prächt'gen Plan,
Laufet, Brüder, eure Bahn,
Freudig, wie ein Held zum Siegen.

Freude, schöner Götterfunken,
Tochter aus Elysium,
Wir betreten feuertrunken.
Himmlische, dein Heiligtum!
Seid umschlungen, Millionen.
Dieser Kuss der ganzen Welt!
Brüder! Über'm Sternenzelt
Muss ein lieber Vater wohnen.
Ihr stürzt nieder, Millionen?
Ahnest du den Schöpfer, Welt?
Such ihn über'm Sternenzelt!
Über Sternen muss er wohnen.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Para os que amam arte, Vincent Van Gogh e belas edições de livros, indico dois livros do arquiteto, professor e pintor escocês, Ralph Skea: "Vincent's Trees" e "Vincent's Gardens". Os livros são primorosos. O "Vincent's Trees" tem capa com parte em tecido e letras em baixo relevo douradas. Ilustrações e conteúdos à mancheia. Não precisa importar, estão à venda nas melhores livrarias.






Mário Quintana

Eu fiz um poema belo
e alto
como um girassol de Van Gogh
como um copo de chope sobre o mármore
de um bar
que um raio de sol atravessa
eu fiz um poema belo como um vitral
claro como um adro...
Agora
não sei que chuva o escorreu
suas palavras estão apagadas
alheias uma à outra como as palavras de um dicionário.
Eu sou como um arqueólogo decifrando as cinzas de uma cidade morta.
O vulto de um velho arqueólogo curvado sobre a terra...
Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?