quarta-feira, 18 de abril de 2018

ROCOCÓ, ROCAILLE, CONCHAS: DESVIRGINAMENTO E ECLOSÃO DA VIDA.

No século XVIII, na França, surgiu nas artes plásticas e na arquitetura, o estilo "Rococó". Esse estilo pretendia impingir uma maior leveza ao barroco, estilo hegemônico desde o séc. XVII na Europa. Inicialmente, o rococó foi empregado na decoração de interiores, privilegiando os formatos de conchas, flores e laços, aspectos tão representativos do feminino. Não bastasse essa imagética, o rococó primava pela luz e pelos tons pasteurizados. É um estilo que se acende de dentro pra fora e de fora pra dentro, matizando uma explosão de suave sensualidade. Foi bastante empregado na França, na Alemanha e na Áustria. 

A Biblioteca Admont Abbey na Áustria é um dos ambientes que leva a sua marca. No Brasil, podemos encontrar reflexos de sua influência, principalmente, em Igrejas Católicas no Rio de Janeiro e em cidades mineiras.

Mas, aqui, farei, apenas, uma despretensiosa análise de uma tela do francês Jean-Honoré Fragonard "O Balanço", em estilo rococó tardio. A palavra "rococó" tem sua origem etimológica intermédia na palavra francesa "rocaille" que significa "concha". Concha essa da qual nasceu Vênus, a Mulher e o Amor. Na tela de Fragonard há uma moça em um balanço, um pé estendido que lança fora o seu delicado tamanquinho, oferecendo-se nu ao seu amante cortejador. O balanço é alçado em direção aos ares e ao conúbio amoroso por um homem mais velho, provavelmente a figura representativa de um pai. Um pouco afastados, dois anjos assistem à cena idílico-erótica, enquanto o Cupido, do alto de seu pedestal, preserva a intimidade do momento e faz sinal de silêncio.  Aqui o formato da concha, rocaille, rococó, não é explícita, concha essa representante do órgão sexual feminino. A concha está metaforizada pelo pé desnudo e de arco em "concha". Estaríamos aqui diante de um instante de desvirginamento, entrega, volúpia. Um instante rococó, que é aquele instante de puríssima acontecência. Aquela que explode num balanço, num baloiço, num balançar e traça o ritmo da entrega no amor.