quarta-feira, 31 de agosto de 2022

 O AMOR DE DANTE ALIGHIERI POR BEATRIZ PORTINARI



Se Sandro Botticelli amou para sempre Simonetta Vespúcio, morta precocemente, aos 23 anos de idade e a quem pintou e repintou, Dante Alighieri amou para sempre Beatriz Portinari, morta precocemente aos 24 anos de idade e com quem nunca, jamais, trocou, sequer, uma palavra. 


Venturas romanescas, típicas de amores medievais que avançaram sobre o renascimento? Ou, amor, simplesmente, amor, que fez em sua irrefreável pulsão e transbordamento infindo germinar umas das mais belas obras-primas da arte ocidental? Pois se o amor de Botticelli por Simonetta deu à luz obras como "O Nascimento de Vênus" e a soberba "Alegoria da Primavera", o amor de Dante por Beatriz ilumina obras como "A Divina Comédia", originariamente batizada, tão apenas de "A Comédia" e a magnífica "Vita Nuova".


Mas, se já falamos sobre Sandro e Simonetta, conheçamos um pouco mais sobre Dante e Beatriz.


Beatriz teria sido uma bela moça nascida em Portico di Romagna, filha do banqueiro Folco Portinari (seria o nosso Candinho aparentado com tão divina e alta figura?rs). Na obra "Vita Nuova", inferimos que Dante a teria conhecido (sem trocarem palavra) quando ele tinha nove anos de idade e ela, oito, quando o senhor Portinari teria se transferido a Florença e vindo a morar em casa vizinha ao do futuro imenso escritor.


Apesar da proximidade física, as paredes dos refreios e impedimentos morais eram grossíssimas e Dante veio a encontrar Beatriz, apenas mais uma única vez, ao atravessarem o Arno, quando então, teriam se saudado, não sem dizerem, novamente, uma única palavra.


No entanto, se para Dante e Beatriz o que restou foi o perene silêncio e o amor irrealizado, Beatriz na obra de Dante o fez transbordar nas mais belas palavras de amor poético realizado em todos os tempos. É Beatriz quem conduz Dante ao Paraíso na sua Divina Comédia, é ela que para ele abre as portas do Paraíso Celeste e é sob o seu olhar de amor que ele contempla Deus e a eternidade.


Tenhamos, então, o prazer de lermos os trechos da "Divina Comédia" nos quais Dante encontra Beatriz no Paraíso Terrestre e ela o conduz aos céus do Paraíso:


(Dante encontra, finalmente, Beatriz no Paraíso Terrestre)


CANTO XXX (trecho)


assim, em meio a uma nuvem de flores

que, de angélicas mãos, subia festiva

e retombava espargindo candores,


sobre um véu níveo cingida de oliva,

dama me pareceu num verde manto

sobre as vestes da cor de chama viva;


e o espírito meu que, desde tanto

tempo, não fora mais por sua presença

arrebatado, já a tremer de espanto,


sem ter pela visão sua conhecença,

mas, por efeito que dela partiu,

de antigo amor senti a força imensa.

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(Beatriz conduz Dante por entre os céus do Paraíso e lança-lhe olhares de amor)


Beatriz volveu-me o seu divino olhar

de centelhas de amor tão incendido,

que o não pôde o meu ânimo enfrentar;


e os olhos abaixei quase perdido.


"Se a ti eu flamejo na força do amor,

além do modo que na terra vê-se,

tão que dos olhos teus venço o valor,


não te surpreendas, pois isso acontece

da perfeita visão que, como apreende,

faz pro apreendido bem que inda se apresse.


Bem vejo como agora já resplende

no intelecto teu a eterna luz

que, vista, só e sempre amor acende;


e, se outra coisa o vosso amor seduz,

nada mais é que daquele um sinal

mal entendido, que nesta transluz.

(...)


* Os quatro primeiro versos finalizam o CANTO IV, os seguintes iniciam o CANTO V.


Dante ALIGHIERI in "A Divina Comédia" (Paraíso)

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

 ERÓTICA DA MELANCIA 


A melancia

vermelha nas partes pudendas

despeja sementes e o resto

é carne branca chupada a cuspe.


A melancia é devorada,

é mastigada,

sorvida a espuma.


Só a pele verde

se regurgita

e se descasca,

alheia

ao cio...


Andrea Campos