E a escultura "O Beijo" de Rodin, originariamente,
fora nomeada como "Paolo e Francesca", mais exatamente,
"Francesca de Rimini". Logo, "O Beijo", foi o seu segundo
nome de batismo. Mas, quem foram Paolo e Francesca? Existiram, de fato?
Sabemos que a obra "A Divina Comédia" de Dante
Alighieri, cujo nome original, inclusive, é "A Comédia", trata-se de
uma crônica de costumes com forte acento político sobre a sociedade florentina
do séc. XIV. Dante era político e fora expulso de Florença sob acusações de
corrupção. Por dez anos, durante o seu tempo no exílio. escreveu a sua magna
opera e esperava, em razão dela, ser anistiado pela Igreja e, por fim, voltar à
sua terra natal. Isso nunca ocorreu. Dante morreu no exílio sem que jamais
repousasse seus olhos, novamente, sobre a sua cidade, Florença.
Mas, voltemos a Paolo e Francesca. Eles, de fato existiram,
e existiram ao tempo de Dante, foram seus contemporâneos. Paolo e Francesca
viveram um caso trágico de adultério. Francesca era casada com o irmão mais
velho de Paolo que, ao saber do romance entre ambos, assassinou-os. As almas de
Francesca e de Paolo foram, então, para o Inferno e é no Inferno que são
encontradas por Dante e o seu guia, o poeta Virgílio. Essa história está
narrada no Canto V do tomo da obra dedicado ao "Inferno". Como o
assassino ainda vivia em 1300 (o ano em que se passa a ação do poema),
Francesca roga no verso 107: “Caïna espera por aquele que nos tirou a vida” .
Caína é a área no nono círculo para onde vão os violentos contra seus parentes.
Paolo e Francesca foram arrastados por uma paixão luxuriosa, mas no inferno,
descobriram que foram levados um aos braços do outro em razão de um amor
sublime.
Fico pensando sobre o porquê de Rodin haver rebatizado a sua
esplêndida escultura. Seu nome anterior revelaria algo de sua própria
história?rs