sexta-feira, 15 de abril de 2016

                                                     
                                                             A Palavra 
           

As palavras nunca, jamais são neutras. Em cada palavra anônima há um laivo nominado em mistério. E o mistério das palavras tem gosto: almiscarado, picante, docemente selvagem. Palavra ácida, biliática, nauseante. Palavra que amarga o tempo. No cheiro da palavra evola suas veias de sangue. Palavra-pulsão, monção de desejo. A palavra sua, ama a minha, e depois do amor desmaia em cansaço, reticências... A palavra acorda, se abre em parágrafos e rege o primeiro raio de sol que penetra em seu dia. A palavra tem fome. Fome de outras palavras. Fome de mastigá-las, sorver os seus pingos, sugá-las na escama. A carne da palavra é a letra. Letra que não sacia e pede acentos. A palavra é a eterna pedinte. Pede porque é faltante, porque é potente em pedir, pede. Pede porque é viva e porque é viva, pede. Toda palavra por dentro é vermelha. Derrapar em suas paredes é cair na vertigem de seu poço, poço onde se inundam seus sentidos. E os sentidos da palavra teimam e queimam sempre mais, mais, mais, mais. A palavra me grita, quando eu só silencio. Salve-se quem puder de uma palavra no cio.


Andrea Campos





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