GRANDE SERTÃO: VEREDAS - UMA
LEITURA QUE NÃO CESSA.
Há
mais de dez anos, venho lendo o romance Grande Sertão: Veredas, e
sei que não estou sozinha nessa travessia. Todo leitor dessa
obra-prima "surregionalista" como a designou Antonio
Candido já fez várias leituras e releituras radicais do livro. Que
o diga o professor Willi Bolle, alemão que veio para o Brasil em
1966 com o único fito de estudar o romance e conhecer o seu autor e
que não pára de ler o livro há mais de 50 anos!
Eu, nas minhas
humildes leituras desse sertão inesgotável, posso dizer que já o
li sob três vieses: por primeira vez, enredei-me no romance como
quem se enovela nos impossíveis do amor, era o impossível do amor
que me capturava e me tinha por abatida nas veredas dessas linhas. Na
segunda vez, fiz uma leitura jurídica e sociológica, detive-me no
sertão civilizacional onde não havia instituições, mas havia a
lei fundada nos princípios fundamentais do direito. Até que
finalizei uma terceira leitura na qual o livro se descortinou para
mim com luzes outras. Ao invés de focar apenas em Riobaldo e o seu
"monólogo", decidi por ler o livro como o que ele
realmente é: um diálogo. E procurei descobrir o máximo de seu
interlocutor que é mudo e cuja fala escutamos apenas através da
fala do único que nos fala: Riobaldo. Esse interlocutor é um doutor
pesquisador da cidade que vem visitar Riobaldo em seu jipe e para
quem Riobaldo narra e procura entender a trajetória de sua vida. Há
quem diga que esse doutor ocupe o lugar do psicanalista. Deveras.
Mas, tenho uma outra intuição: esse doutor ocupa o lugar da
ciência, da racionalidade. Esse doutor é o racional em diálogo com
o trágico personificado em Riobaldo. Eis, então, sob que tintas
vejo hoje essa obra: sob as tintas de uma confrontação entre a
racionalidade e a tragicidade, confrontação essa a engendrar o
homem humano. No mais, sempre haverá outras novas leituras outras.
Travessia.
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