quinta-feira, 8 de setembro de 2022




O diálogo como espaço privilegiado não apenas para a busca da verdade, mas para o encontro da PAZ. 


O ATEU, OS TRÊS SÁBIOS E A DAMA


O belíssimo texto apologético "O Livro do Gentio e dos Três Sábios" escrito em 1274 na Baixa Idade Média por Raimundo Lúlio, um europeu que apenas escrevia em árabe, narra um belo diálogo/debate imaginário entre três sábios e um ateu. 


O desolado e melancólico ateu encontra-se próximo à  morte e deseja saber a verdade sobre Deus e os seus caminhos. Dirige-se, então, ao bosque do conhecimento onde mora a bela e formosa Dama. Esta Dama era a "Inteligência". Antes de o ateu chegar ao Bosque, para lá já haviam se aproximado os três sábios religiosos, cada um com seus respectivos credos: O primeiro era Judeu, o segundo era Cristão e o terceiro era Islâmico. A Dama, ciente dos conflitos e das guerras entre as religiões, explica aos sábios a metafísica da natureza e o significado de cada letra que sopra o aroma da justiça e da tolerância nas belas flores daquele jardim. Dirige-se à fonte e em suas vestes diáfanas ensina aos sábios o mistério que é guardado em cada árvore: Elas não são imóveis, apenas caminham para o alto e nesse caminho, oferecem a todos, sem distinção, os seus frutos e as suas sombras. Após a sua amorosa e assertiva preleção, a Dama parte, deixando sozinhos os três sábios.


É quando chega o ateu moribundo, coxeante e de olhos baixos em sua angústia existencial. Os sábios, antes de iniciarem o debate diante do ateu, pactuam que serão regidos e iluminados em seus diálogos pelos ensinamentos da Dama. Cada um deles, então, passa a expor a sua religião pela ordem de aparecimento de cada uma delas por sobre o Planeta: Primeiro o Judeu, depois o Cristão e por fim o Islâmico. Dialogam sobre a Trindade e sobre a Salvação. Debatem sobre as Cruzadas e as Guerras. Os ânimos ficam acirrados, mas nesse momento, param e por instantes, antes de se agredirem, silenciam. O ateu a tudo assiste e estremece e chora na desesperança de conhecer a Verdade. Entrementes que o debate se encerra e os três sábios se dão as mãos, a Dama aparece ao ateu e o toma em seus braços. Os olhos do ateu brilham e resplandecem. Fulgurantes, a Dama e o ateu desaparecem para além do bosque em forma de Luz. 


Diante do corpo morto do ateu, os sábios abraçam-se e pedem perdão um ao outro para se acaso se tiverem dito alguma palavra vil que tenha ferido a Lei de cada uma de suas religiões. E voltam para os seus templos em Paz.


No outro dia, no Bosque, entre as fontes e sob as árvores, cavalga a formosa Dama. Seus ensinamentos serão sempre revelados. Mas, nunca o seu Mistério.

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