terça-feira, 17 de novembro de 2015

                                                             A Morte de um Rio
                                                                               Andrea Campos



Amanheceu em noite o dia:
Ele está morto.

Ele está morto
e não lhe cabem
as cinzas de sua morte
e nem o tropel
de minhas lágrimas.

Ele está morto.
Morto de morte matada.
Morte que escorre trôpega
em languidez robusta.
Morto de morte faminta
que arrasta morte
em morte regurgitada.

Morto de morte
que lhe transborda
pelas escarpas
e perfura-lhe
o vórtice profundo.

Ele está morto
e não é doce a sua morte,
mas acre como um cortejo
de noiva morta
imantada
por um véu de lama.

Ele está morto
e vagueia vadio,
negaram-lhe a sepultura,
o seu leito é um caixão vazio.

Morto de morte de sede,
Morto de morte de fome,
Morto de morte de frio.

Deem-lhe a extrema-unção!
Tragam-me seu corpo sombrio!

Ele está morto.

Ele está morto
e gota a gota,
na curva de meu coração
se enterra a morte de um rio.



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