terça-feira, 10 de novembro de 2015

O que eu amo em ti
não são teus lábios afogueados,
cava e cova de meu desejo.
O que eu amo em ti não são as gotas de orvalho
sobre a relva de teu corpo onde  brinca
o meu sonho inominado.

O que eu amo em ti não é teu hálito
recendendo a barro no estio,
nem teu gesto hirto e grave
em meu instante vazio.

O que eu amo em ti não é
a última centelha que acendes
na escuridão, nem as fatias de tua
sombra sob a luz.
Não são tuas mãos,
pedras pousadas sem asas,
entrelaçando as horas de meu dia.

O que eu amo em ti é o teu íntimo detalhe
indefinível e indefinido,
é esse cisco de areia que plantas em meu olhar
sobre o  deserto alvorecido.

É lá onde cabe e descabe o meu amor
e eu me transbordo toda
entre o silêncio e a palavra infinita.

Andrea Campos




Egon Schiele

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