Parte 2.
Andrea Campos
XXXI.
O amor é fio de Ariadne
nas travessias que sinto,
basta segui-lo ao teu corpo
pra atravessar labirinto.
Gerhard Richter |
XXXII.
A palavra crepita,
mas onde se arde
é no silêncio que chama.
Gerhard Richter |
XXXIII.
Se o silêncio é de ouro
e a palavra é de prata,
o olhar é de amante.
Pablo Picasso |
XXXIV.
Seguir, tão apenas seguir
na confiança de não ser mais
que folha aconchegada ao vento,
livre e liberta de qualquer esperança.
Seguir, não importando a paisagem.
Nada pedir
foi uma desaprendizagem.
Jackson Pollock |
XXXV.
O silêncio plange a palavra impossível.
Georges Braque |
E se em palavras não consigo,
é no olhar que eu te bem-digo.
Georges Braque |
XXXVII.
A vida é travessia sem fim
cheia de gozo e cansaço,
mas atravessa-se um corpo
apenas lhe dando um abraço.
Thomas Ruff |
XXXVIII.
O teu sorriso me cai
como uma luva,
eu ergo as mãos
e em tua boca
alcanço a chuva.
Jackson Pollock |
XXXIX.
Basta dizer o sol
e o dia
recomeça
amarelo-carmim,
Basta dizer a lua
e o feminino
recomeça
com ânsia em mim,
Basta dizer o amor
e você recomeça
em mim
sem fim.
Max Ernst |
XL.
Sinto muito não ser muito,
e desse muito, quase nada,
mas desse quase
ser uma fresta
iluminando a tua estrada.
Matisse
|
XLI.
Não tive uma vida em linha reta,
já derrapei por muitas dobras,
mas para ti trago as mãos cheias,
XLII.
Saudade: essa nesga de luz vazada,
ventre de sonhos sob a letra desmaiada.
Pierre Soulages |
XLIII.
No desabrochar da luz,
em uma só lufada,
ele escorreu em mim,
como escorre da noite
a madrugada.
Jackson Pollock |
XLIV.
Com passos rendidos
vieste
e penetraste
em meus muros erguidos
contra o tempo.
Porque é só tu que conheces
o segredo da noite que treme
no útero de minha palavra
que geme.
Matisse |
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