sábado, 18 de dezembro de 2021

A fábula do Pássaro e do Peixe.


 O PÁSSARO e O PEIXE 


O que vou contar aqui é apenas uma fábula... Uma fábula azul. Uma fábula azul carmim turquesa. Sim, carmim. Porque não há como decantar as gotas de sangue. Mas não, não te contagiarão. Elas estão lá impermeáveis no azul de mim. Então, como eu ia dizendo essa é apenas uma fábula. A fábula do pássaro e do peixe. 


Uma vez era um pássaro, na mesma vez era um peixe. Eles viviam contemplando-se de espaços opostos e intangíveis. O pássaro no céu, o peixe no mar. O pássaro em sua fome irrefreável de vida, pensava em comer o peixe. Mas, se comesse o peixe, o peixe desapareceria e ele não poderia mais contemplá-lo. 


Por sua vez, o peixe, em sua fome irrefreável de vida, pensava em comer o pássaro. Mas, se comesse o pássaro, o pássaro desapareceria e ele não poderia mais contemplá-lo. E assim, olhavam-se, dia após dia, o peixe e o pássaro num mar e céu de desejos. 


O tempo derramava-se entre a escopia e o devoramento. Entre o olhar e a fome. Na escolha entre a distância ou o aniquilamento temperado de solidão. 


Um dia, o pássaro amerrissou. O peixe, trêmulo, apavorado, escorregou por entre as brumas das ondas. O pássaro aproximou-se, o peixe arreganhou a boca e o pássaro deu um salto pra trás, pensando que iria ser, naquele momento, também devorado. 


Até que se olharam mais de perto e depuseram as armas entre asas e barbatanas envergonhadas. Foram achegando-se devagarinho. "Não, não tenha medo, vou lhe ensinar a nadar", disse o peixe, ao que ouviu do pássaro "Não, também não tenha medo, vou ensiná-lo a saltar por sobre as ondas para fugir dos predadores". 


Assim, o peixe e o pássaro, apreenderam o amor em suas vidas e mergulharam num voo azul no mar sem fim.


Andrea Campos

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