segunda-feira, 23 de março de 2015


Tu vinhas (PABLO NERUDA)
Tela de Marc Chagall


Não me fizeste sofrer,
Mas esperar.

Aquelas horas 
emaranhadas, cheias 
de serpentes,
quando 
minha alma se esvaía e me afogava,
e tu vinhas andando,
tu chegavas desnuda e arranhada,
tu chegavas sangrando a meu leito, 
noiva minha,
e então 
toda noite caminhamos 
dormindo
e quando despertamos 
eras intacta e nova,
Como se o vendaval grave dos sonhos
outra vez acendesse 
fogo à tua cabeleira
e em trigo e prata submergiste todo 
teu corpo até deixá-lo deslumbrante.

Não sofri, amor meu, 
sozinho te esperava.
Precisavas mudar de coração 
e de olhar.Depois de haver tocado a mais profunda
zona de mar que te entregou meu peito,
tinhas que sair da água, 
pura como uma gota levantada 
por uma onda noturna.

Noiva minha, tiveste 
que morrer e nascer, eu te esperava.
Não sofri te buscando, 
sabia que virias,
uma nova mulher com os encantos que adoro,
os mesmos de alguém que eu não adorava,
os teus olhos, as mãos, a tua boca,
só que com outro coração,
que amanheceu a meu lado
como se sempre houvesse estado ali
para seguir comigo para sempre.

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