terça-feira, 26 de maio de 2015

Trecho do belo, poético e crítico livro recém-lançado pelas historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling: "Brasil: Uma Biografia".


"O Brasil recebeu 40% dos africanos que compulsoriamente deixaram seu continente para trabalhar nas colônias agrícolas da América portuguesa, sob regime de escravidão, num total de cerca de 3,8 milhões de imigrantes. Hoje, com 60% de sua população composta por pardos e negros, o Brasil pode ser considerado o segundo mais populoso país africano, depois da Nigéria. Além do mais, e a despeito dos números controversos, estima-se que em 1500 a população nativa girasse em torno de 1 milhão a 8 milhões, e que o "encontro" com os europeus teria dizimado entre 25% e 95%. (...)

Construída na fronteira, a alma mestiça do Brasil - resultado de uma mistura original entre ameríndios, africanos e europeus -, é efeito de práticas discriminatórias já centenárias, mas que, ao mesmo tempo, levam à criação de novas saídas. Como dizia Riobaldo Tatarana, um personagem dileto do escritor Guimarães Rosa, "por cativa em seu destinozinho de chão, é que árvore abre tantos braços" - e, se a alma é híbrida, são muitos os braços do Brasil. O Brasil com frequência escapa aos lados opostos da moeda, construindo práticas culturais que mancham barreiras mais óbvias, e assim nos distinguem e nos incluem no mundo - sempre na condição de brasileiros."









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