FRÁGIL CORPO FEMININO COMO FONTE DE DESAMPARO.
Em razão não apenas dos costumes da época, mas de uma enfermidade de sua mãe, Michelângelo ficou até os três anos de idade, apartado de sua família e sob os cuidados de uma babá.
Uma vez retornando ao lar familiar, o menino se viu órfão de mãe muito cedo, aos seis anos de idade. Quatro anos depois, seu pai contrai novas núpcias com aquela que ocuparia o lugar de mãe de seus filhos, mas essa também vem a falecer pouco mais de dez anos depois. A saúde sempre frágil de sua mãe e a vida breve de sua madrasta foram, provavelmente, sinônimos de inexplicável desamparo e abandono maternos para a criança e, posteriormente, para o adolescente. A fugacidade do corpo feminino como uma tragédia afetiva anunciada.
Isso, a meu ver, contribuiu não apenas para a sua tendência ao isolamento, como também, para a sua preferência por pintar e esculpir corpos masculinos e mesmo masculinizados, ainda que se tratassem de corpos de mulheres. O vigor e a potência masculina à imagem e semelhança da força divina inoculados tanto a corpos de homens como ao de mulheres, através de sua própria arte, apaziguariam a sua angústia de abandono e desamparo...
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Ilustrações:
Sibila Délfica e Sibila Líbica (Profetisas pagãs). detalhes da Capela Sistina. (Michelângelo Buonarroti)
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