terça-feira, 7 de junho de 2022

 "SOU UM CATIVO DO RECIFE." (JOAQUIM NABUCO)


Há muitas semelhanças entre o nosso imenso Nabuco e dois outros nomes que enaltecem e honram a cultura e a cidadania pernambucana: Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto. Os três, apesar de ostentarem em suas obras  profundos traços de suas pernambucanidades, não fizeram as suas vidas em Pernambuco. 


Bandeira viveu na Mauricéia tão somente em seu primeiro ano de vida tendo ao Recife retornado para uma temporada dos 6 aos 10 anos de idade.

 Depois, apenas visitas e nunca mais.


João Cabral em Pernambuco se fez rapaz, mas após tornar-se diplomata, respirou o resto de seus dias entre cidades europeias e o Rio de Janeiro. Mesmo sendo eleito membro da Academia Pernambucana de Letras, nunca participou de uma reunião na Casa Carneiro Vilela, tendo sequer comparecido à sua posse. 


Tanto Manuel Bandeira como João  Cabral de Melo Neto eram membros da Academia  Brasileira de Letras, estando ambos em repouso eterno no Mausoléu da ABL no cemitério São João Batista na cidade do Rio de Janeiro. 


Quanto ao nosso Nabuco, este viveu em Pernambuco  apenas até os seus 8 anos de idade aos cuidados de sua madrinha Ana Rosa no engenho Massangano. Quando do falecimento de sua madrinha foi juntar-se à sua família no Rio de Janeiro onde seu pai, um baiano, era político do Império. Nabuco retornou ao Recife apenas para cursar o seu derradeiro ano do curso de Direito, ficando em terras maurícias por cerca de dois anos. Depois, por aqui veio por ocasião de sua campanha para deputado. 


Toda a vida de Nabuco foi um intenso périplo entre Rio de Janeiro, São Paulo e anos vivendo na Europa e nos Estados Unidos. Casou-se com uma fluminense e fluminenses são os seus cinco filhos e toda a sua descendência. Morreu em Washington. Mas, aí terminam as suas semelhanças com os seus também notáveis conterrâneos. 


Diversamente de Bandeira e de Cabral, Nabuco, por disposição de última vontade, fez questão de ter as terras pernambucanas como sua última morada. "Ah, mas os demais eram membros da Academia Brasileira de Letras, natural que fossem enterrados no Mausoléu dos Imortais!", você me diz.  Ora, Nabuco não apenas era membro da Academia Brasileira de Letras como foi um dos seus fundadores junto ao seu grande amigo Machado de Assis. Se isso lhe atribui maior sentimento de pernambucanidade em face dos demais, quem somos nós para dizê-lo. Deixemos a palavra ao próprio Nabuco, o abolicionista, cosmopolita e libertário  que se dizia "Um Cativo do Recife".




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