terça-feira, 12 de julho de 2022

 Na Morte de Gabriel Garcia Marquez





Devasto-me em razão de quem tão vasto fez o meu caminho. O caminho pelo tempo, por seus passos indeléveis, passos passados, passantes, marcados pelo que marcaste e pelo tudo que marques. Estás a perder a memória e é na memória que o tempo se encerra, sem memória teu tempo encerra. Recolhes o teu tempo a um adeus proustiano: não há mais tempo perdido, todo o tempo é teu, sem antes e nem depois, só o agora. Mas o agora não existe. O agora é também memória, é também resgate imagético das imagens que fluem e refluem e só te dão adeus. Mergulhas na solidão, mas essa solidão é toda e somente minha e tem muito mais de cem anos. Em quais tempos estará o teu amor sem cólera? Em qual tempo teu amor e ódio por Llosa? Sinto muito quando passas a cada vez mais a sentir nada. E se o registro do tempo te abandona, é porque ele passa a ser menor do que tu, é porque como um Cronos autofágico tu o devoras. E com ele, eu também sou devorada, por tuas palavras, por tua fantasia, por teu sonho, por teus desejos, porque tu és o tempo e sou eu, devastada por entre lágrimas, somente eu, sozinha, que sem tuas letras, provarei da solidão e ficarei, sem teus livros, no esquecimento.



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