quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Firmino - Um Canto de Amor Sertanejo
                                       Andrea Campos
       

Eu o amei
Desde menino,
Branquelo,
Franzino,
Cicatriz no rosto,
Marca do meu destino.

Gostava de muita troça,
Sela sem estribo à roça,
Nas mãos, bolas de gude,
À tarde, nadar no açude.

Arapuca de gavião,
Tecia feito artesão,
Prendia o pássaro
No fim do dia
Pra de manhã lhe dar
alforria.

Já rapaz, era um peão,
Sendo de tudo capaz,
Afoito pra uma arenga,
Brabo por demais,
Não lhe passava
Qualquer pendenga,
A palavra nele era arte
Na boa briga sem bacamarte,
Na boa guerra em tempos de paz.

Comigo, mão na mão, subia a serra,
Para mó de me mostrar a paisagem
E foi lá que me beijou, cume da terra,
A nossa imagem afogueando a aragem.

Numa noite da São João,
Levou-me à sua tapera,
Firmino bramia feito fera
E com o pau de um pilão,
Fez de mim mulher com feijão,

Firmino me fervia num brasão
Sem acender fogo por precisão.

Assim fez-se o casamento
Com flor de laranjeira,

E eu só tinha um pensamento:
Ser só dele a vida inteira.

Do modo que eu colhia o milho,
Firmino em mim, colhia um filho,
Toda noite ele era um archote,
Perto da calha, língua e cangote.

Mas foi quando veio o estio
E o açude rachou na margem,
Firmino pensando em viagem
Disse: “vou pru Sum Paulo
Meió que de sede é morrê de frio.’

Arrumei a sua trouxa
E chorei e fiquei roxa,
Mas ele me fez a promessa
De ir, mas voltar depressa.

Assim os anos se passaram,
Firmino em arribação,
Fui envelhecendo como
Borralho,
De Firmino só a ilusão,

Foi quando veio a notícia crespa
Que me deram com precisão:
Firmino havia pousado há tempos
Na arapuca de uma prisão,

Enlouqueci, desesperei,
Minguado era meu gavião,
Não mais veria solto e liberto
A imensidão de seu sertão.

Desde então eu subo a serra
Nas mãos o vazio e a enxada,
- Firmino, eu lhe perdoo,
Afinal quem não erra
Nessa vida danada?

Meu peão, asa sem voo,
Meu amor,
voo no nada.




Nenhum comentário:

Postar um comentário