domingo, 20 de setembro de 2015



                                                           No Ateliê (trecho inicial)
                                                                                Andrea Campos


Às vezes é preciso visitar as estrelas e tocá-las, mesmo sem vê-las. Era noite e o corpo  dele atirou-se ávido por sobre a porta, como se fosse abrir o futuro. Ela se pôs frente a seus olhos e olhava-o com a boca. Adentraram o ateliê onde ele iria pintá-la. Ela recostou-se a um divã, a camisa de renda semiaberta, gotículas de suor cintilando entre os seios hirtos. “Não se mexa”, ele disse. Mas havia algo que nela bulia incessante, por sobre e por dentre a pele e resfolegava e piscava. Soltou um suspiro. Ele sério, compenetrado, usava camisa e shorts de algodão. Os olhos dela derraparam por sobre todo o torso dele e, de repente, capotaram... "Não, ele não me é indiferente". (...)

Do livro de Contos: “O mais profundo é a pele”. Inédito




                                                     
                                                             


                                                         Na Baia (trecho inicial)
                                                                         Andrea Campos

“Eu não a amo, mas a desejo”, era o seu refrão perpetuado no tempo. E era assim que a desejava com as extremidades do corpo em riste e os punhos do coração cerrados...

Era sempre em frente à baia que ela passava cavalgando enquanto ele selava os cavalos. Há quatro anos cuidava dos cavalos da fazenda do pai dela onde ela se refugiava durante as férias universitárias. Porque não ficar na cidade junto às outras moças? Em meio a tantas paisagens, nada mais a atraía do que o torso daquele homem rude a selar, alimentar e montar os cavalos. Torso suado, recendendo a estribo. Crinas dilatadas, farejando mel de frutas maduras. Certa feita, durante uma tarde quente, ela passou pela baia em direção ao rio. Usava um vestido longo em seda branca, transparente. O seu corpo tremeluzia e escorria no ar. (...)

Do livro Contos: “O mais profundo é a pele”. Inédito




Nenhum comentário:

Postar um comentário