No Ateliê (trecho inicial)
Andrea Campos
Às vezes é preciso visitar as estrelas e tocá-las, mesmo sem vê-las. Era noite e o corpo dele atirou-se ávido por sobre a porta, como se fosse abrir o futuro. Ela se pôs frente a seus olhos e olhava-o com a boca. Adentraram o ateliê onde ele iria pintá-la. Ela recostou-se a um divã, a camisa de renda semiaberta, gotículas de suor cintilando entre os seios hirtos. “Não se mexa”, ele disse. Mas havia algo que nela bulia incessante, por sobre e por dentre a pele e resfolegava e piscava. Soltou um suspiro. Ele sério, compenetrado, usava camisa e shorts de algodão. Os olhos dela derraparam por sobre todo o torso dele e, de repente, capotaram... "Não, ele não me é indiferente". (...)
Do livro de Contos: “O mais profundo é a pele”. Inédito
Na Baia (trecho inicial)
Andrea Campos
“Eu não a amo, mas a
desejo”, era o seu refrão perpetuado no tempo. E era assim que a desejava com
as extremidades do corpo em riste e os punhos do coração cerrados...
Era sempre em frente à
baia que ela passava cavalgando enquanto ele selava os cavalos. Há quatro anos cuidava dos
cavalos da fazenda do pai dela onde ela se refugiava durante as férias universitárias. Porque
não ficar na cidade junto às outras moças? Em meio a tantas paisagens, nada
mais a atraía do que o torso daquele homem rude a selar, alimentar e montar os
cavalos. Torso suado, recendendo a estribo. Crinas dilatadas, farejando mel de
frutas maduras. Certa feita, durante uma tarde quente, ela passou pela baia em
direção ao rio. Usava um vestido longo em seda branca, transparente. O seu
corpo tremeluzia e escorria no ar. (...)
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