Poeta português do Séc. XVI. Maior poeta de toda a história de Portugal. Um dos maiores poetas da literatura universal de todos os tempos. Você fala a língua de Camões?rs
AS armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta."
LUÍS DE CAMÕES in "Os Lusíadas", Canto I
Soneto
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Soneto
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
As circunstâncias nas quais Camões escreveu o belíssimo poema acima: O navio no qual estava o soldado Camões em expedição no oriente, junto à sua amada Dinamene naufragou. Camões que havia há pouco terminado de escrever Os Lusíadas, conseguiu salvar a si e a seu manuscrito, nadando com um braço e segurando Os Lusíadas com o outro (pode parecer anedótico, mas o fato é que houve o naufrágio e ele conseguiu que os originais de Os Lusíadas fosse salvo ileso). O mesmo, infelizmente, não ocorreu à sua amada Dinamene que morreu afogada no naufrágio. Foi pra ela que ele escreveu esse poema.
Soneto
"Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!"
Agora, Inês é morta". Essa popular expressão que significa que algo é irremediável, refere-se a um episódio histórico do séc. XIV que se passou em Portugal e que foi belamente narrado por Camões em "Os Lusíadas" no episódio sobre o assassinato da bela Inês de Castro, a amada do Príncipe D. Pedro de Portugal. Temendo que o filho a desposasse, o pai de D.Pedro, D. Afonso, manda executá-la, mesmo diante de seu belíssimo pedido de clemência, junto a seus filhos, netos de D. Afonso. Inês foi morta por degolamento. Apaixonado e desesperado, ao tomar assento no trono como Rei de Portugal, D. Pedro proclama Dona Inês sua rainha. daí ela ter se tornado conhecida como a "rainha morta". E haja paixão!rs
118
Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.
119
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
120
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
...
134
Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.
135
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores.
LUÍS DE CAMÕES. episódio da morte de Inês de Castro, in OS LUSÍADAS, Canto III, oitavas 118 a 135.
"Os Lusíadas" - Episódio do Velho do Restelo - Luís de Camões. O poema épico "Os Lusíadas" tem por escopo celebrar o heroísmo e as conquistas portuguesas além-mares, mormente centradas na figura de Pero Vaz de caminha e adjacentes, mas nesse episódio do poema, Camões faz uma crítica à desbragada e vã ambição lusa. Alguns estudiosos afirmam que "O Velho do Restelo" seria o próprio Camões.
O episódio vai da oitava 94 à oitava 104
95
—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
96
— "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!
97
—"A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?
Camões era soldado do exército português. Perdeu a visão do olho direito em uma batalha no Marrocos. Ou seja, escreveu Os Lusíadas enxergando com um olho só. O que eu fico ainda mais impressionada é de como ele conseguiu escrever Os Lusíadas nessas expedições, dentro de navios precários sem o auxílio de uma biblioteca. Se vocês forem ler Os Lusíadas ou se já o leram, sabem que ele é um poema épico, histórico, no modelo da Eneida de Virgílio e de A Divina Comédia de Dante. Ou seja, cheio de relatos históricos e mitológicos, transbordando de cultura clássica e renascentista. Como fazer isso sem o auxílio de uma biblioteca? Em meio a batalhas e a longas viagens oceânicas? Fantástico!!!! Viva Camões! Viva Camões! Viva Camões!rs
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