domingo, 6 de setembro de 2015


Para Aylan
          Andrea Campos


Te darei o caminho não trilhado,
O beijo não roubado,
O sonho abortado.

Te darei a fome rasa e louca,
O mel e o fel da boca,
A vida imensa e pouca,
Te darei a viagem corrompida
Por ondas escorridas
Em praias esquecidas.

Te darei mar e sangue
Que incendeia
Pululando em tua veia.
Pra cada  um de teus sapatos,
Te darei. inteira, a meia.
Terás sempre por fiança
Ser pra sempre uma criança,

Se te salvarem não foi ágil,
No teu pouco corpo frágil
Te darei o meu naufrágio.

Mas, não te darei
Os dias que se consomem
feito nada pelo homem.

Eis o nome de  teu algoz:  
Todos nós.
Eis a nossa pena:
A perpétua de sermos sós.

Sendo toda nossa a culpa
Pra que tudo fosse assim,
Se não posso te dar vida
E a palavra que diz sim,
Dou-te cheia  a  tua morte
Que não pára de morrer de
sal e areia dentro em mim.

2 comentários:

  1. Você se fez nossa porta-voz nesse poema.

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  2. Aylan na beira da praia sinaliza que a humanidade está na beira da falência... Seremos salvos? Ainda há tempo pra tentarmos que sim... Ainda...

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