quinta-feira, 12 de março de 2020



A REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA E A CAPACIDADE BRASILEIRA DE TRANSFORMAÇÃO.
(Ou sobre a ideologia da inutilidade das sublevações no Brasil)



A data Magna que passou a ser comemorada a cada dia 06 de março no Estado de Pernambuco em razão da Revolução Pernambucana nos leva a muito refletirmos sobre nós mesmos, pernambucanos, e sobre todo o povo brasileiro em sua capacidade de levar a cabo ações e práticas transmutadoras.
Primeiro, ao questionarmos a invisibilidade histórica dessa revolução de modo a incutir no povo brasileiro um sentimento eterno de constitutivos derrotismo e incompetência revolucionária. Como se em nós houvesse, intrinsecamente, uma incapacidade para a promoção de mudanças efetivas. Os livros de história se esforçaram para nos convencer desse espírito nacional de não vocacionados para as transformações estruturais e mudanças de status quo há séculos. Entendamos.
O movimento brasileiro que consta como sendo a mais significativa revolução iluminista e libertária em nossos livros de história, sendo inclusive razão de um feriado nacional, é a Inconfidência Mineira. Com todo o respeito a esse movimento e aos inconfidentes, o que ocorre é que a Inconfidência Mineira sequer foi uma revolução ou um movimento efetivo. Foi, ao invés, tão somente, uma ideia, um plano que não foi concretizado. Tendo sido os seus mártires, condenados à morte, não por terem realizado a revolução, mas, estritamente, por seus atos preparatórios. O mais homenageado deles, Tiradentes, não tem, sequer, existência certa. Ou seja, no dia 21 de abril comemoramos uma Revolução ABORTADA, sequer não vitoriosa, já que apenas uma TENTATIVA de Revolução!.
O que me indago é se o propósito dessa data é comemorar a "Inconfidência", o projeto de revolução, ou o seu abortamento. Como se fosse uma data feita para nos lembrarmos de nossa incapacidade de implementar projetos de mudança e que, ao tentamos assim fazê-lo, teremos sempre a nossa morte anunciada ainda no período gestacional. Logo, a invisibilidade da Revolução Pernambucana frente à Inconfidência Mineira não se trata, tão somente, de fazer prevalecer os fatos históricos-políticos ocorridos nas regiões Centro-Sul sobre os fatos históricos-políticos ocorridos nas regiões Norte-Nordeste. Trata-se de uma evidente mensagem de DESENCORAJAMENTO transmitida pelas instâncias máximas de poder político a TODO o povo brasileiro. Uma ideologia centenária sobre a inutilidade de nossas sublevações e tentativas de mudanças estruturais. Ainda mais em se tratando de movimentos separatistas. Afinal, no dia 21 de abril comemoramos a nossa derrota o que seria o oposto se a Revolução libertária que comemorássemos anualmente fosse, ao menos, também, a Revolução Pernambucana!
Sim, porque a Revolução Pernambucana foi VITORIOSA! Foi um movimento ILUMINISTA e LIBERAL, um braço da então recente REVOLUÇÃO FRANCESA, eclodindo na América do Sul e capitaneada por brasileiros, homens da terra. Em 1817, derrotamos o PODER CENTRAL, colocamos abaixo a MONARQUIA e proclamamos uma REPÚBLICA! É, originariamente, não do Estado de Pernambuco, mas da República de Pernambuco, a nossa bandeira! Tivemos representação diplomática no exterior. No caso, o Embaixador Cruz Cabugá nos Estados Unidos da América. Durante mais de dois meses fomos uma República independente e vencedora. Mas esse fato histórico deve ser silenciado, afinal, não diz respeito a comemorarmos a nossa derrota e o nosso destino incontornável de derrotados em nossos projetos de mudança. Diz respeito a comemorarmos a nossa VITÓRIA e a nossa potência transformadora, proclamada não por um português como ocorre na celebração da independência do país, mas, independência proclamada pelo povo brasileiro!
A Revolução Pernambucana não era comemorada em nosso próprio Estado. Passou a ser celebrada, recentemente, a partir de 2008 e só no ano de 2017 tornou-se dia feriado. Trata-se de Revolução ainda desconhecida pela maioria esmagadora de nossa população. A hipótese que ora advogo é a de que o seu total desconhecimento em âmbito local e nacional tem o condão proposital de perpetuar o sentimento de eterna pequenez e insignificância do povo brasileiro. O sentimento de inutilidade de nossas práticas de mudança. Mais ainda no que diz respeito às mudanças na estrutura do poder. Acostumamo-nos a sermos elefantes gigantes que desconhecem totalmente o próprio peso e vivem como se tivessem o peso de uma minhoca! A nossa cidade do Recife, cidade de raiz mercantil, libertária, vocacionada para a circulação de riquezas com maravilhosos portos, seria para ser, no mínimo, algo próximo à cidade de Roterdã! Assim como cada cidade brasileira e respectivas vocações! Vivem todas muito aquém do que realmente poderiam ser!
Mas, sigamos, é hora de revermos a nossa história e os seus discursos inferiorizadores; incapacitantes, despotencializadores, perversos e traumáticos.
Vamos pôr abaixo, um a um, os nossos complexos, inclusive aquele que nos coloca em total dependência e subalternização ao pai-Estado e que nos leva à eterna nostalgia de um Rei.
Sejamos o que realmente somos! Transformadores, potentes, capazes e RICOS!
O brasileiro, junto a sua história tem sido morto a cada dia. Mas, já está mais do que na hora de proclamarmos a nossa potência transformadora, a nossa força vital, que assim como o Estado de Pernambuco é IMORTAL.

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