sexta-feira, 6 de março de 2020


BRUXAS NO BRASIL





Em meio a uma história milenar na qual a violência contra a mulher é um dado constante e assombroso, é um refrigério termos acesso a narrativas que nos falam daquelas mulheres subversivas e transgressoras, dentre as quais as bruxas.

E não me refiro às bruxas idealizadas pela mitologia, mas às bruxas cujas práticas sempre desafiaram o status quo, a marginalização, as religiões e as ciências. Essas mulheres, por terem investido em forças e lógicas outras para a existência, foram cruelmente perseguidas a fim de serem exterminadas. Representavam um modo feminino de viver e de pensar que ameaçava a estrutura patriarcal do saber temporal e do saber espiritual. Estima-se que entre os séculos XV e XVIII, cerca de 100.000 mulheres foram executadas em fogueiras pela prática de bruxaria.

E essas sempre tiveram presença constante na história de formação do Brasil. Se formos falar das bruxas índias nativas, teremos material para um tratado. Mas, restringirei os meus exemplos ao nosso processo colonizatório inaugurado pelos europeus.

Falo das três feiticeiras que viviam na cidade de Salvador corria a década de 1590, antes dessa cidade receber a visita da Santa Inquisição como nos informa o historiador Emanuel Araújo.

Chamavam-se elas: Isabel Rodrigues, de alcunha "Boca Torta", degredada de Portugal para o Brasil em razão de suas práticas feiticeiras, Antônia Fernandes que dizia ter aprendido com o diabo que beber semente de homem fazia querer grande bem e Maria Gonçalves Cajado, de alcunha "Arde-lhe o Rabo". Essa última dizia:

"À meia-noite no meu quintal com a cabeça ao ar, com a porta aberta para o mar, eu enterro e desenterro umas botijas, e estou nua da cintura para cima e com os cabelos soltos, e falo com os diabos, e os chamo e estou com eles em muito perigo".

Chegamos até aqui, porque sempre, de algum modo, praticamos a transgressão, o enfrentamento e a resistência.

E porque sempre, sempre, desafiamos fogueiras com a força de nossa magia.





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