BRUXAS NO BRASIL
Em
meio a uma história milenar na qual a violência contra a mulher é
um dado constante e assombroso, é um refrigério termos acesso a
narrativas que nos falam daquelas mulheres subversivas e
transgressoras, dentre as quais as bruxas.
E
não me refiro às bruxas idealizadas pela mitologia, mas às bruxas
cujas práticas sempre desafiaram o status quo, a marginalização,
as religiões e as ciências. Essas mulheres, por terem investido em
forças e lógicas outras para a existência, foram cruelmente
perseguidas a fim de serem exterminadas. Representavam um modo
feminino de viver e de pensar que ameaçava a estrutura patriarcal do
saber temporal e do saber espiritual. Estima-se que entre os séculos
XV e XVIII, cerca de 100.000 mulheres foram executadas em fogueiras
pela prática de bruxaria.
E
essas sempre tiveram presença constante na história de formação
do Brasil. Se formos falar das bruxas índias nativas, teremos
material para um tratado. Mas, restringirei os meus exemplos ao nosso
processo colonizatório inaugurado pelos europeus.
Falo
das três feiticeiras que viviam na cidade de Salvador corria a
década de 1590, antes dessa cidade receber a visita da Santa
Inquisição como nos informa o historiador Emanuel Araújo.
Chamavam-se
elas: Isabel Rodrigues, de alcunha "Boca Torta", degredada
de Portugal para o Brasil em razão de suas práticas feiticeiras,
Antônia Fernandes que dizia ter aprendido com o diabo que beber
semente de homem fazia querer grande bem e Maria Gonçalves Cajado,
de alcunha "Arde-lhe o Rabo". Essa última dizia:
"À
meia-noite no meu quintal com a cabeça ao ar, com a porta aberta
para o mar, eu enterro e desenterro umas botijas, e estou nua da
cintura para cima e com os cabelos soltos, e falo com os diabos, e os
chamo e estou com eles em muito perigo".
Chegamos
até aqui, porque sempre, de algum modo, praticamos a transgressão,
o enfrentamento e a resistência.
E
porque sempre, sempre, desafiamos fogueiras com a força de nossa
magia.
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