"NÃO
FOI DE CORONAVÍRUS QUE A VÍTIMA MORREU, ELA JÁ SOFRIA DE DOENÇA
PREEXISTENTE"…
São
muitas as narrativas que tentam minimizar o poder assassino do vírus
coroado e desconsiderá-lo como a causa mortis de milhares de óbitos.
Sinto dizer, mas o que está matando não são as chamadas
comorbidades, mas o coronavírus, mesmo... Comorbidades todos nós
temos, não há quem tenha uma saúde perfeita. No mínimo, temos um
furúnculo, um cisto, uma enxaqueca...
Exemplifico
o meu argumento com o caso de nosso imenso poeta, Manuel
Bandeira.
Bandeira
foi acometido pela tuberculose aos 18 anos de idade. A partir de
então, toda a sua vida se deu à sombra da "Dama Branca",
aquela que estava sempre à espreita, rondando os seus pulmões,
ameaçando sorver o seu ar vital. Em razão da grave doença
pulmonar, Bandeira viveu boa parte da sua vida em cidades serranas,
banhadas pelo ar puro das estações climáticas que lhe expandisse a
respiração. O poeta, na escassez do ar que lhe faltava, esperava
deixar a vida precocemente... Viveu "como quem morre"...
Mas,
Bandeira, contra todos os prognósticos, teve vida longa. E produziu
uma obra poética de tempo mais extenso ainda. Faleceu aos 82 anos de
idade. E não em razão da tuberculose, e não em razão de qualquer
outra doença respiratória. Manuel Bandeira partiu desse mundo em
razão de uma hemorragia gástrica.
De
que teria Manuel Bandeira morrido, caso em seu tempo o poeta houvesse
sido contaminado pelo devastador coronavírus?
PNEUMOTÓRAX
(MANUEL BANDEIRA)
Febre,
hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou
chamar o médico:
— Diga
trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
……………………………………………………………………….
— O
senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito
infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário