domingo, 29 de março de 2020


"NÃO FOI DE CORONAVÍRUS QUE A VÍTIMA MORREU, ELA JÁ SOFRIA DE DOENÇA PREEXISTENTE"…

São muitas as narrativas que tentam minimizar o poder assassino do vírus coroado e desconsiderá-lo como a causa mortis de milhares de óbitos. Sinto dizer, mas o que está matando não são as chamadas comorbidades, mas o coronavírus, mesmo... Comorbidades todos nós temos, não há quem tenha uma saúde perfeita. No mínimo, temos um furúnculo, um cisto, uma enxaqueca...

Exemplifico o meu argumento com o caso de nosso imenso poeta, Manuel Bandeira.

Bandeira foi acometido pela tuberculose aos 18 anos de idade. A partir de então, toda a sua vida se deu à sombra da "Dama Branca", aquela que estava sempre à espreita, rondando os seus pulmões, ameaçando sorver o seu ar vital. Em razão da grave doença pulmonar, Bandeira viveu boa parte da sua vida em cidades serranas, banhadas pelo ar puro das estações climáticas que lhe expandisse a respiração. O poeta, na escassez do ar que lhe faltava, esperava deixar a vida precocemente... Viveu "como quem morre"...

Mas, Bandeira, contra todos os prognósticos, teve vida longa. E produziu uma obra poética de tempo mais extenso ainda. Faleceu aos 82 anos de idade. E não em razão da tuberculose, e não em razão de qualquer outra doença respiratória. Manuel Bandeira partiu desse mundo em razão de uma hemorragia gástrica.

De que teria Manuel Bandeira morrido, caso em seu tempo o poeta houvesse sido contaminado pelo devastador coronavírus?




PNEUMOTÓRAX (MANUEL BANDEIRA)
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
……………………………………………………………………….
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.





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