quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 E AFINAL, QUEM FOI VITTORIA COLONNA, A MULHER QUE MICHELÂNGELO AMOU?




No alto Renascimento houve uma mulher sensível, culta, fascinante e, a um só tempo, serena e entusiasmada, reconhecida como a mais eminente poetisa do quinhentismo italiano, o seu nome: Vittoria Colonna.
Nascida no seio de uma família principesca no ano de 1492, os seus pais providenciaram para que a pequena nobre recebesse a mais esmerada instrução, tendo sido educada em humanidades e em letras clássicas, além de talhada com as mais altas virtudes morais.
Cresceu no Castelo de Ischia em Napoli que vinha a ser o epicentro da efervescência cultural aragonesa. Aos 16 anos de idade contrai bodas com Francesco Ferrante, Marquês de Pescara, de quem obtém o mesmo título nobiliárquico. Apesar de haver sido um casamento arranjado como sói eram os casamentos da nobreza, Vittoria, agora, Marquesa de Pescara, apaixona-se fervorosamente por seu esposo a quem perde prematuramente em uma batalha.
Uma vez viúva, recolhe-se durante três anos no Convento das Clarissas onde aperfeiçoa os seus estudos teológicos e filosóficos, além de dar continuidade a uma produção poética profícua. Voltando à vida secular, passa a ser uma promotora e irradiadora das letras e das artes. Transforma o Castelo de Ischia em uma corte intelectual refinada, frequentada pelos maiores nomes de seu tempo. A ela, o grande Lodovico Ariosto dedicou versos em sua obra "Orlando, o Furioso", descrevendo-a como "nata fra le vittorie" e enaltecendo-a não apenas como a maior poetisa de seu tempo, mas irmanando-a às mais célebres mulheres da mitologia e da antiguidade.
Trocou poemas com os maiores escritores da Europa dos quinhentos como Pietro Bembo, Iacopo Sanazzaro e o português Sá de Miranda a quem acolheu na Itália por seis anos, sendo celebrada e aclamada por todos eles.
Posteriormente, fugindo da Peste Negra, transfere-se para Roma, estreitando amizade com o Cardeal Bembo e frequentando o Papado. Foi quando, então, conheceu Michelângelo, estando este em torno dos 60 anos de idade e prestes a pintar o Juízo Final na parede do altar da Capela Sistina. Por seu lado, tinha Vittoria Colonna, 46 anos de idade, estando ambos, portanto, no auge da maturidade intelectual e espiritual.
Travaram uma relação intensa, um vínculo forte e de profundo afeto por mais de 10 anos. Finalmente, Michelângelo encontrou aquela com quem podia dividir suas dúvidas e angústias, confessar os seus tormentos, além de compartilhar de seus maiores prazeres como a poesia e a teologia. Na serenidade da Marquesa, acalmava os seus tumultos e sentia-se estimulado por seu brilho intelectual. Se ele era um homem renascentista por excelência, em Vittoria encontrara a sua correspondente no feminino.
Vittoria era a síntese da católica neoplatônica, conjugando o cristianismo com o platonismo, participando ativamente dos debates culturais e teológicos sobre a Reforma e a Contrarreforma da Igreja, nos quais posicionava-se a favor de uma maior abertura e diálogo com as teorias luteranas. Em razão de sua postura emancipatória, a Inquisição preparava um processo no qual a acusava de heresia, estando em franca produção de provas contra a Poetisa.
No entanto, antes que as malhas inquisitoriais a alcançassem, Vittoria Colonna caiu gravemente enferma, recolhendo-se a um Mosteiro.
Após longa agonia, morreu no dia 25 de fevereiro de 1547, nos braços desesperados de Michelângelo Buonarroti. Seus restos mortais nunca foram encontrados.

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