domingo, 1 de agosto de 2021

 QUINCY JONES: LENDA VIVA e POLÊMICAS DE CHARME

Nos dias cafonas que correm, pois não há nada mais cafona do que negacionismo, violência, truculência e fome, renovei meu interesse pelas canções e pela voz de Frank Sinatra. Assistir ao seu show no Maracanã de 1980 foi como, por pelo menos uma hora, recuperar um Brasil de charme. Porque não há nada mais charmoso e elegante do que a afirmação da vida através de gestos sensíveis e respeitosos. O ápice do glamour é uma genuína troca de sorrisos e amabilidades.
Frank Sinatra não é mais desse mundo, Tom Jobim partiu ainda mais cedo, mas fiquei contente de saber que o grande músico, orquestrador, arranjador e produtor musical Quincy Jones, responsável por grandes sucessos de Sinatra, Count Basie, Ray Charles, Miles Davis, Sarrah Vaughan, Ella Fitzgerald e tantos outros expoentes musicais, do alto de seus quase 90 anos de idade, ainda está entre nós, mexendo e bolindo e promovendo polêmicas.
Confesso que nunca havia me interessado muito por ele, por sempre conjugá-lo a Michael Jackson, um nome que se tornou execrável para qualquer pessoa que atue em defesa do direitos humanos, sobretudo das crianças. Mas quando li que Quincy havia dito que Michael Jackson era grande, mas não era lá essas coisas quando comparado aos imensos com os quais trabalhara, menos do que polêmica, sua fala transpareceu-me ter a credibilidade daqueles que por já terem cruzado o Cabo da Boa Esperança, não mais têm papas na língua nem devem absolutamente nada a ninguém. E, de fato, quem era Michael Jackson antes de Quincy Jones ter produzido os seus álbuns "Thriller" e "Bad", ou melhor, antes de Quincy Jones ter "construído" Michael Jackson? Para aumentar a polêmica, Jones afirmou que Jackson era narcisista, racista e "roubava" músicas de outros artistas. Depois dessas, rendi-me ao Quincy Jones de vez...rs
Foi quando, então, defrontei-me com mais afirmações polêmicas que, mesmo em se tratando de artistas de nossa grande consideração e predileção, examinando bem, não deixam de fazer algum sentido. A primeira é a de que os Beatles não eram assim, grandes instrumentistas.
Apesar de ser um pouco chocante escutar essa afirmação "ab initio", não devemos confundir composição e voz com instrumentação musical. Os Beatles foram gênios da composição, suas vozes eram maviosas, mas quem sou eu pra dizer que aquele que estudou música com os melhores professores de orquestração do mundo (com a mesma professora de Leonard Bernstein) e conviveu com Miles Davis e Count Basie, não sabe aquilatar o que é um instrumentista de excelência? E os Beatles, provavelmente, não o eram mesmo...
Outra polêmica diz respeito a Elvis Presley. Sem mais delongas, Quincy Jones insinua que ele era racista. Se ele era racista mesmo não sabemos, mas que ele emulava os negros, criadores do rock and roll, inclusive pintando os seus próprios cabelos loiros de preto, isso ele fazia. E se olharmos bem, não se assiste a Presley sequer acompanhado de músicos negros.... O que não acontecia com Sinatra, que não apenas vivia para cima e para baixo com uma orquestra composta de tão somente músicos negros, como exigiu em Las Vegas que os músicos se hospedassem no mesmo hotel no qual ele se hospedasse, sob pena de não mais fazer seus shows (os músicos negros eram proibidos de ficarem nos hotéis de Las Vegas, tendo que se hospedarem em pousadas fora da cidade). A exigência de Sinatra foi atendida e com ela demolida séculos de práticas de discriminação e preconceito.
Quincy Jones, na década de 80, produziu e regeu a música "We are the World", para arrecadar fundos contra a fome na Etiópia, juntando em um mesmo recinto, as maiores estrelas da música pop. Como ele promoveu essa façanha? Pendurou uma placa na porta do estúdio com os dizeres; "Deixe o seu ego do lado de fora".
Last but not Least, como profundo admirador da música e da cultura brasileiras, a lenda viva assegurou que a nossa cantora Simone é uma das mais belas vozes femininas da música no mundo... Bem, mas isso não é uma frase polêmica... É, simplesmente, a mais pura verdade...rs
Vida longa a Quincy Jones!

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