quarta-feira, 11 de maio de 2022

 SOBRE A OBRA "BANQUETE" de PLATÂO.


Com inenarrável encanto, li a obra-prima  "Banquete" de Platão na semana passada. Havia lido apenas o discurso de Aristófanes, o que me conferia uma noção da imensidão do que é esse texto, mas não a noção de sua infinitude. E é isso o que é o "Banquete", um texto infinito, uma fonte que não cessa nunca de jorrar. Realidade ou  ficção?  Por momentos, a narrativa de Platão sobre os grandes gregos que se reúnem em um banquete para tecer considerações sobre o amor através não de diálogos, mas de discursos parece ser, antes que uma digressão filosófica ou um relato histórico, uma obra literária de gênio. Obra literária na qual o próprio filósofo Sócrates não passaria de uma personagem do filósofo-literato (lembrando-nos que antes de ser filósofo, Platão esforçou-se por se estabelecer como poeta da sua pólis, foi pra filosofia por ter "fracassado" como poeta...rs). Voltando ao Banquete. O que me parece, com o pouco que conheço,  é que tudo o que já foi dito, ou grande parte do que já foi dito, sobre o AMOR tem seus fundamentos inaugurados nesse texto de Platão. Incluindo os entendimentos contraditórios sobre esse fenômeno incontável (em todos os sentidos), uma vez que os preletores na obra sobre o tema estão sempre divergindo uns dos outros. Da psicanálise aos pós-estruturalistas, de Freud e Lacan, a Foucault e a Deleuze, os fundamentos sobre o amor de todos esses pensadores e filósofos, mesmo que divergentes estão já lá, vivos e pulsantes no Banquete!


Apesar de ser um texto de fácil leitura, peço licença para repetir o óbvio:  cada frase ou pequeno trecho do livro é digno de estudos profundos e complexos. Sendo, inclusive, irruptores, mesmo após os mais de dois milênios que nos afastam da data de sua escritura. Como exemplo traria aquilo que foi dito por Platão na voz de Fedro sobre o amor de Orfeu. A despeito desse amor na nossa cultura ser tido como um dos maiores amores da mitologia, Platão em sua analítica, considera Orfeu um covarde! Um covarde por não ter sabido sacrificar-se por seu amor, tendo sido, por isso, condenado á morte pelos deuses! A partir daí, não apenas passamos a revisitar a história de amor entre Orfeu e Eurídice, mas a revisitarmos o conceito de amor sacrificial e o próprio conceito da palavra sacrifício a partir de sua etimologia (sacro-ofício). E claro, a não cessarmos de nos indagar sobre o que é mesmo o amor.


Aos que me acompanharam até aqui, trago-lhes o trecho da obra que ora comento:


BANQUETE (PLATÃO)


...

"Os deuses sancionam o esforço e a coragem nascidos do amor! Mas os deuses não fizeram isso com Orfeu, filho de Eagro. Nada lhe concederam, isto é, apenas lhe permitiram que vislumbrasse uma sombra da mulher a quem ele fora buscar, e isto porque, como se não passasse de um simples tocador de cítara, sem coragem, não soubera morrer por amor ao seu amor, como Alceste, quando procurou meio de penetrar vivo nas regiões do Hades. Os deuses, irados, castigaram-no pela sua covardia. e fizeram com que ele fosse morto por mulheres."


Banqueteemo-nos!!!!!


*

Tela de George Frederic "Orfeu e Eurídice".


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