quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

                                                     Vou-me embora pra Leitura
                                                                  Andrea Campos
(Sobre o poema "Vou-me embora pra Pasárgada" de Manuel Bandeira)




Vou-me embora pra Leitura
Lá sou amiga do rei,
Lá tenho o amor que quero
No livro que escolherei.

Vou-me embora pra Leitura,
Vou-me embora pra Leitura,
Lá é que eu sou feliz,
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Diadorim, navalha no dente,
Jagunça e falsa clemente
Vem a ser contra-parente
Do Riobaldo que nunca tive.

E como amarei Karamazovs,
Sofrerei com Bovarys,
Montarei Tempo Perdido,
Subirei Montanha Mágica,
Tomarei Banho de Mar!

E quando estiver cansada,
Deito na curva de um rio,
Mando chamar Dona Benta
Pra me Contar as histórias
Que no tempo de eu menina
Esopo vinha me contar.
Vou-me embora pra Leitura.

Na Leitura tem tudo,
É outra civilização,
Tem um processo seguro
pra arte-concepção,
Tem Metamorfose automática,
Tem Maçã no Escuro à vontade,
Tem Três Mosqueteiros bonitos
Pra gente namorar.

E quando eu estiver mais triste,
Mais triste de não ter jeito,
Quando de noite me der
Vontade de me matar
-Lá sou amiga do rei-
Terei o amor que quero
No livro que escolherei.
Vou-me embora pra Leitura!



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