terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 O QUE UMA EPIDEMIA TEM A VER COM A ORAÇÃO DA AVE MARIA?



A oração da Ave Maria tal qual a conhecemos hoje passou por um processo milenar de mudanças, alterações e inserções em sua composição. Tendo a sua primeira parte laudatória, por base, o Evangelho de Lucas, a segunda parte, que diz respeito à súplica, é muito mais uma criação popular que foi acolhida pela Igreja. O "Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, os pecadores", foi um apelo dos fieis já na Idade Média, enquanto que o "Agora e na hora de nossa morte" foi uma inserção feita em razão da Epidemia da Peste Negra entre os anos de 1346 e 1352.
Essa epidemia, causada por pulgas de ratos, alastrou-se pela Europa ceifando a vida de cerca de 30 milhões de pessoas, quase um terço da população europeia à época. Da mesma forma que hoje se acusa os chineses pela Pandemia do Coronavírus, os grupos atacados como culpados da terrível chaga foram os judeus e os leprosos. No entanto, diversamente da crise sanitária atual, as medidas eram extremas: pessoas suspeitas de terem contraído a nefasta doença eram obrigadas a se retirarem das cidades por cerca de quarenta dias (daí, o termo "quarentena") e, uma vez que não havia mais espaços para enterrarem-se os mortos, os corpos eram empilhados como mercadorias e queimados.
Nesse verdadeiro estado de terror e aflição, os povos europeus e cristãos suplicavam aos céus e a Deus pela interseção da Ave Maria, implorando-a para que rogasse por eles, "agora e na hora de suas mortes"... Mortes essas tão atuais e iminentes em meio à epidemia. Esta segunda parte da oração, fruto do desespero e da criação popular, era rezada em caráter privado. Apenas em 1568, o Papa São Pio V, ao promulgar o novo Breviário Romano, estabeleceu solenemente a recitação de sua fórmula.
E da fé dos que sofreram aos que hoje sofrem, a oração da Ave Maria adquiriu a força dos que rogam, sem intermediários, diretamente aos céus.




Telas:
"A Anunciação" de Leonardo da Vinci.
"Triunfo da Morte" de Peter Brueguel.

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