sábado, 9 de janeiro de 2021

 

ESTÉTICA DO BEM E DO MAL:

VOCÊ REZARIA EM UMA CAPELA NA QUAL BOLSONARO REPRESENTASSE UM SANTO?





O que pouco hoje se fala é sobre os escândalos causados por Michelângelo na confecção das paredes e do forro da sacra Capela Sistina. Corpos desnudos, sensuais e erotizados representando os santos e o próprio Jesus. Figuras públicas corruptas e de má-fama transitando entre os anjos. Em razão de suas ousadas blasfêmias, Michelângelo foi obrigado a, ao menos, vestir os santos. Quanto às figuras de moral duvidosa da época, hoje, as suas efígies passam por nós desapercebidas e diante delas podemos até, inadvertidamente, nos ajoelharmos, uma vez que não as conhecemos. E é sob as outrora tintas do escândalo que há muito se fazem os conclaves e se escolhem os Papas.

Mas, esse introito foi apenas para mostrar que houve uma tradição renascentista na qual às representações de arte sacra, compareciam não apenas as figuras do bem, mas também personagens, contemporâneos da época, malquistos.

E foi, talvez, tentando reeditar a melhor tradição renascentista que o artista baiano, Carlos Bastos, contratado para pintar os afrescos da Capela de São João Batista no Parque da Cidade do Rio de Janeiro, em 1972, durante os anos de chumbo da Ditadura Militar, após semanas trancafiado no templo, apresentou à Arquidiocese, as figuras da Santa Maria tendo ao seu colo o pequeno São João com o rosto de Caetano Veloso, e em seu acolhimento celestial, santos representados por Dorival Caymmi, Di Cavalcanti e Emílio Garrastazu MÉDICI! Como nenhuma tradição pode ser emulada pela metade, a concepção divina de Dante se fez presente e a obra constou de dois afrescos, um finalizado, representando o paraíso e outro, ainda inacabado, representando o purgatório. Não é preciso dizer que a capela foi dessacralizada e nela não se podem celebrar missas.

Mas, aí é que entra algo que é muito peculiar da tradição Católica: Nem tudo que é condenado, sobretudo, artisticamente, é destruído. Embora não mais templo religioso, a Capela se mantém para os céus erguida e os seus afrescos, preservados intactos e sempre restaurados. E protegidos sob um véu. Mas, nunca sob a história.

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