quinta-feira, 25 de junho de 2015

                                                             Separação
                                                                              Andrea Campos


Gustav Klimt
Eu te dei minha fantasia
E esses meus olhos de inverno,
Te dei bem mais do que podia,
Dei o meu poema mais terno.

Eu te dei as minhas ilusões,
Minhas manias de esperança,
Todo o meu amor foi em porções
De integridade de uma criança.

E se o que eu te dei não te coube
Ou foi, talvez, insuficiente,
É porque teu coração não soube

Fazer de tua razão a minha:
De viver para te amar somente.
Te dei a mim, era o que eu tinha.





                                                                 Transitado
                                                                             Andrea Campos




Gustav Klimt

É tarde para dizer
Não te amo mais.

Naveguei todos os mares,
Desvendei clarões de ilhas,
Decifrei todas as trilhas
De teus contornos abissais
E descobri que
É tarde para dizer
Não te amo mais.

Ensaiei por tantas vezes,
Dizer adeus, que nunca mais,
E te esqueci por alguns meses,
Dias de sol, tardes em paz,
Até sentir tua saudade
E o vazio que me traz toda
A certeza de que
É tarde para dizer
Não te amo mais.

Tivesse desistido há um segundo
Antes de só enxergar o mundo
Com a paisagem que o amor faz,
Retornaria as léguas desse périplo,
Devolveria todos os mistérios
A Posêidon, aos imortais,
Mas vem meu tempo e canta:
É tarde para dizer
Não te amo mais.

E assim me tens em tua vida
E sou para sempre sucumbida
Por teus anseios imorais.

Traçando na areia com os dedos,
As letras de meus desejos
Desarvorados, ancestrais,
Volto e te molho com beijos,
Sou tua escrava, relampejo,
Meu corpo em lava
Te engole aos poucos,
Te satisfaz,

Porque é tarde.
É muito tarde para dizer
Não te amo mais.




       


                                                          Tua Cura
                                                                      Andrea Campos


Eu sou aquela que te amou
Gustav Klimt
Por entre as cortinas,
No lusco-fusco
Que na madrugada germina,

Eu sou aquela que a tua invenção 
alucina,
Doce e amargo sabor da loucura,
Por quem teu sonho acorda 
e nunca termina,
Num cio que grassa a desgraça,
Leviana mulher tão pura:
Eu sou tua cura.

Eu sou aquela que incendiou teu espelho,
Pariu o amor intenso e vermelho,

Eu sou aquela que veio antes,
Restou durante
E estará  depois,

Eu sou a jamais esquecida,
A voz redimida
Do que somos nós dois,

Eu sou a que está no teu
Corpo que treme,
Eu sou tua febre,
No destino, o teu leme.

A que abarca o teu dia,
Embala teu sono,
E te tem por rendido,

Eu sou teu passado perdido
Tudo que poderia ter sido
E tens de volta,
Escorro em teu desejo remido,
Eu sou tua escolta.

Mas se o que  se diz é volátil
Quando envaidecido,
Então emudeço, me calo
E a ti ofereço minha  pele,
Meu mais profundo tecido,


O que sou, o que fui, o que serei
Não importa,
Entra, me prende, te esfrega, me beija,
Deixa acesa só a luz que nos corta,
Geme-te, morre-me, mata-te
em mim teu desespero...

Eu sou aquela que é tua,
Fecha a porta.





Poemas extraídos dos livros "Pássaro Mulher no Voo da Paixão", 1999 (Inojosa Editores), "Poemas de Mar e de Amar", 2007 (Edições bagaço) e "Cantos do Amor Agreste", 2010 (Edições Babenco), respectivamente.








        



                                                                             

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