sábado, 20 de junho de 2015

Carta a Raymond Escholier sobre As Banhistas de Cézanne.

(Trata-se da tela Três Banhistas que era de propriedade de Matisse e o mesmo a doou ao Petit Palais cujo curador era Escholier)


Nice, 10 de novembro de 1936.

Entreguei ontem, a seu enviado, As banhistas de Cézanne. Acompanhei com cuidado a embalagem do quadro, e ele seguiria na mesma tarde para o Petit Palais.

Permita-me dizer que esse quadro é de primeira importância na obra de Cézanne, pois é a realização muito densa, muito completa, de uma composição que ele estudou exaustivamente em várias telas que, embora presentes em coleções importantes, são apenas estudos que resultaram nesta obra.

Faz 37 anos que a possuo, conheço bastante bem essa tela, não inteiramente, espero eu; ela me deu apoio moral em momentos críticos de minha aventura como artista; com ela nutri minha fé e minha perseverança; permita-me pedir-lhe, pois, que dê a ela o lugar que merece para que possa mostrar-se em todas as suas possibilidades. Para isso, ela precisa de luz e recuo. É saborosa na cor e na técnica, e com o recuo ela evidencia a força do impulso de suas linhas e a excepcional sobriedade de suas relações.

Sei que não preciso dizer-lhe isso, mas creio que é meu dever fazê-lo; por favor, aceite essas palavras como um testemunho escusável de minha admiração por essa obra, que nunca deixou de engrandecer-se desde que a possuo.

Permita-me agradecer os cuidados que vai dispensar-lhe, pois é em plena confiança que lha remeto...

In Henri Matisse - Escritos e reflexões sobre arte, p. 142-143, São Paulo: Cosac Naify, 2007.




"Três Banhistas" de Cézanne

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