sábado, 8 de agosto de 2015

A Divina Comédia - Paraíso
                    Dante Alighieri


(O trisavô de Dante, Cacciaguida, faz profecias sobre o seu futuro exílio)


CANTO XVIII (trecho)


Como Hipólito teve de fugir
Atenas, por madrasta malfazeja,
tu de Florença deverás partir.

Isso se quer e isso é o que lá se enseja
e isso logo terá quem ora o pensa,
onde Cristo, dia a dia, se mercadeja.

A culpa estará co' a parte ofensa,
como sói suceder, mas a vingança
fará testigo ao Vero que a dispensa.

De teus mais caros bens a aventurança
tu perderás, e essa é a flecha fatal
que, de primeiro, o arco do exílio lança.


Dante no exílio - Pintor anônimo




Dante tinha um protagonismo político em Florença, tendo chegado ao posto de um dos seis priores do Conselho, uma espécie de prefeito. Havia, à época, dois partidos, o  partido dos Gibelinos que eram os partidários do Imperador, e o partido dos Guelfos, os partidários do Papa. Os Guelfos que detinham a quase totalidade do poder em Florença subdividiam-se em "Brancos" que se opunham à interferência do papado no poder temporal e em "Negros" que apoiavam a ingerência do Papa nos assuntos seculares, assim como o seu papel de "conter" as ações do Imperador. Dante era do partido dos Brancos. Havendo o então Papa, Bonifácio VIII, auxiliado os Negros a tomarem posse da cidade, muitos Brancos foram condenados ao exílio, inclusive, Dante que foi, injustamente, acusado de corrupção e chamado a pagar uma multa, pena essa que ele se recusou a cumprir (é isso aí Dante! Cabeça erguida!). Dante passou vinte anos no exílio, dez dos quais ele escreveu a sua Commedia. Devido ao grande prestígio que lhe conferiu a sua maior obra, Dante pensou que as portas de Florença lhes seriam reabertas, ainda mais com a morte do Papa Bonifácio VIII. Dante faleceu, logo após publicar o Paraíso, sem sequer fazer a revisão pretendida de toda Commedia. Acho que morreu de desgosto. E isso me deixa triste...


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