Andrea Campos
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Luz mascarada,
breu.
Tez eriçada,
teu.
Céu, pó de estrada,
meu.
Resfolegante,
teu.
Lua minguante,
meu.
Iridescentes,
teu.
Mel entre os dentes,
meu.
Suor de essências,
teu.
Luminescências,
meu.
Bruxuleante
breu.
Na tua cama,
eu.
Ressaca
Como se o amor tremesse em sombras,
em cada fresta de luz, um arrepio.
Ardências correm cintilantes
margeando os rios
que voltam e desembocam em suas fontes.
A ausência de teu corpo
é um mar vazio.
Sinalagma

No meu suspiro, a tua calma.
No teu Atlântico, o meu Índico,
No teu adágio, o meu cântico.
Na tua palavra, a que nos salva,
No meu abismo, a lua alva.
No nosso olhar a luz da malva,
Na tua carne, a minha carne,
Na boca um grito... e nasce a alma.
Vácuo
Sem você
meu verso é branco.
O meu poema
apenas uma pilha

Partem-me as letras,
cedilhas de sangue,
escorro...
A sua ausência é uma
janela sem trincas,
olhares sem rimas,
uma mão retalhada...
E eu me abro
pra o nada.
Água e Sol
Era em pedaços de sol
que ele se trazia à minha boca
até que eu mastigasse inteira
o seu sabor amarelo...
Hirta e tesa
como os seus raios,
de fome de luz
meus desejos
se acendiam e
eram lacaios...
Era quando o
dia partia
e eu subia
em gotas
à penedia para
engolir estrelas.
Mas, vestida de sol,
a não conseguir vê-las,
sibilante, ele me punha
aos braços e
embalava-me
os sonhos
de água e sal.
E molhando a sua boca
na minha,
ao seu sabor amarelo
eu misturava
o meu sabor
de cristal.
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