sexta-feira, 14 de agosto de 2015

                                                     Versos à Margem
                                                                    Andrea Campos







Partilha

Luz mascarada,
breu.
Tez eriçada,
teu.
Céu, pó de estrada,
meu.
Resfolegante,
teu.
Lua minguante,
meu.
Iridescentes,
teu.
Mel entre os dentes,
meu.
Suor de essências,
teu.
Luminescências,
meu.
Bruxuleante
breu.
Na tua cama,
eu.




Ressaca

Como se o amor tremesse em sombras,              
em cada fresta de luz, um arrepio.
Ardências correm cintilantes
margeando os rios
que voltam e desembocam em suas fontes.

A ausência de teu corpo
é um mar vazio.












Sinalagma

Na tua sede, a minha água,
No meu suspiro, a tua calma.

No teu Atlântico, o meu Índico,
No teu adágio, o meu cântico.

Na tua palavra, a que nos salva,
No meu abismo, a lua alva.

No nosso olhar a luz da malva,

Na tua carne, a minha carne,
Na boca um grito... e nasce a alma.




Vácuo

Sem você
meu verso é branco.

O meu poema
apenas uma pilha
de palavras partidas.

Partem-me as letras,
cedilhas de sangue,
escorro...

A sua ausência é uma
janela sem trincas,
olhares sem rimas,
uma mão retalhada...

E eu me abro
pra o nada.




Água e Sol


Era em pedaços de sol
que ele se trazia à minha boca
até que eu mastigasse inteira
o seu sabor amarelo...

Hirta e tesa
como os seus raios,
de fome de luz
meus desejos
se acendiam e
eram lacaios...

Era quando o
dia partia
e eu subia
em gotas
à penedia para
engolir estrelas.

Mas, vestida de sol,
a não conseguir vê-las,
sibilante, ele me punha
aos braços e
embalava-me
os sonhos
de água e sal.

E molhando a sua boca
na minha,
ao seu sabor amarelo
eu misturava
o meu sabor
de cristal.





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