De Dante a James Joyce, do séc. XIII ao séc. XX, dos primórdios ao além do tempo, é sempre o amor de uma mulher que salva um homem e o leva aos céus...rs E quem está dizendo isso são os próprios homens, o que se há de fazer?rs
"Ó dama em quem minha esperança vive,
e que, por mim, no Inferno até inscreveste
o rastro teu quando eu perdido estive;
por tantas coisas que me ofereceste
conhecer, por tua força, tua bondade,
graça e valor a agradecer sou preste.
De servo me hás trazido à liberdade,
por todo modo e por toda via
a que bastasse a tua potestade.
Em mim teu alto influxo custodia,
pra que minha alma, que tu alçaste avante,
ao desprender-se ainda te sorria."
Dante Alighieri in A Divina Comédia - Paraíso, Canto XXXI
"Feio e fútil: pescoço mirrado e cabeleira emaranhada e um borrão de tinta, baba de caracol. Mas alguém o amara, o aconchegara aos braços e no seu coração dela. Não fora ela o tropel do mundo o houvera esmagado aos pés, esborrachado caracol desossado. Ela havia amado seu fraco sangue aguado sorvido do dela mesma. Era isso então real? A só coisa verdadeira na vida? (...) ela já não era: o esqueleto tremente de uma vergôntea queimada ao fogo, um odor de pau-rosa e cinzas molhadas. Ela o salvara de ser pisoteado e se fora, mal e mal tendo sido. Uma pobre alma ida para os céus: e por sobre um terrunho por sob estrelas piscantes uma raposa, fartum rubro de rapina na pele, com brilhosos olhos impiedosos, raspava a terra, escutava, levantava terra, escutava, raspava e raspava."
James Joyce in Ulisses, pág. 35, Ed. Civilização Brasileira, 2015.
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