sábado, 11 de julho de 2015

Diálogos com Camille Claudel.





"Valsa: (...) coitado de quem pôs sua esperança nas praias fora do mundo... - os ares fogem, viram-se as águas, mesmo as pedras, com o tempo, mudam". Cecília Meireles



"Eu perdi de vista o meu destino. Meu pedido nunca se esgota. Eu peço. O que peço? Isto: a possibilidade de eternamente pedir". Clarice Lispector


"As Ondas: (...)  Por isso parto, hesitante, mas altivo; sentindo uma dor intolerável, mas seguro que vou triunfar nessa aventura após tanto sofrimento, seguro - quero crer - de que no fim descobrirei o objeto de meu desejo". Virgínia Woolf





"O inimigo de um amor nunca vem de fora, não é homem ou mulher, é o que falta em nós mesmos". Anais Nin



Pour Camille (Claudel)

                     Andrea Campos


O êxtase dissecou teus olhos
maculando sonhos impermeáveis,
enquanto o branco em tua pele
mentiu o negror das noites
mal dormidas, 
a tua carne de vidro 
em repouso de espera 
sobre os cacos.

Anjo de asas multifásicas,
descortinas em teu frescor
a angústia que se desprende
e se perpetua como o teu cheiro,
perfume volátil e resistente
a desafiar o inodoro dos dias.

Acordam em teu rosto
réstias perenes de gozo
mescladas à tristeza
de uma onça
após o cio defraudado.

Fêmea, femme, feminae,
na essência, absoluta.
Nas esculturas de tua dor,
encontro as sombras
de um amor lapidado,

Curvas onde a Mulher
se reconhece e derrapa 
no princípio feminino
sem meio e sem fim.

O todo universal
no bronze inefável.


In "Olhos sobre Tela", Recife: Companhia Editora de Pernambuco, 2002.


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