domingo, 23 de janeiro de 2022

 Pois é, querida Tarsila, é assim que querem a tua cidade, não uma cidade de pessoas, mas de operários, não uma cidade de cidadãos, mas de operários, não uma cidade de artistas, mas de operários. Não uma cidade, mas um pátio de fábrica com seus muros exatos. Muros que começam e terminam monocordicamente cinzas. Nessa cidade o sol não percorre o tempo, mas sobre um céu também cinza, percorre os ponteiros de um relógio. Cidade onde não se ouve o grito, mas só o barulho do apito. Uma cidade sem cor, sem sangue e sem sal, dormindo e acordando pra sua vocação industrial. E eu nem preciso lhe dizer, você sabe o quanto eu sinto... Mas a tua cidade seguirá, dadivando a sua cal a quem quer lhe fazer bem e, inopinadamente, lhe faz mal...


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Tela "Operários" de Tarsila do Amaral.




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