quarta-feira, 12 de janeiro de 2022


 DAS INVISIBILIDADES QUE AINDA NÃO PODEMOS ALCANÇAR...




BAL BLANC (1903) Joseph-Marius Avy Marseille, 

Petit Palais, Paris. 


Essa belíssima pintura, uma das de minha predileção, faz referência a um momento  alcunhado de "Bal Blanc" (Baile Branco)  que ocorria nos recintos domésticos das moças e nos quais era vedada a presença de espécimes do sexo masculino. Os "Bal Blancs" eram bailes preparatórios para o grande evento iniciático, verdadeiros ritos de passagem, das meninas-moça, geralmente das camadas mais abastadas, na vida social.

 Seria um evento  congênere do que ainda hoje chamamos de "Festa de Debutantes" e que tem por escopo geral apresentar a jovem de 15 anos de idade à sociedade. Mas a expectativa e o enlevo quase dramático das "fillettes" iam além, uma vez que a iniciação no mundo das "mulheres" não ocorreria em um baile feito só pra elas, mas em um baile aleatório, já de adultos, no qual ela iria se "imiscuir" (quem não se lembra da cena antológica do filme "Guerra e Paz" baseado no livro homônimo de Tolstoi no qual a então adolescente, Natasha, interpretada pela insuperável Audrey Hepburn, vai ao seu primeiro baile?). O momento é de muito encantamento, mas também de angústia e apreensão: "Estarei bonita?", "Serei aceita?", "Alguém me tirará pra dançar?". O baile tinha, claro, por escopo específico, introduzir a jeune fille no mercado matrimonial...  


Agora, a curiosidade que nos faz coçar as pontas das orelhas: Como os rapazes aprendiam a bailar? Aprendiam a bailar uns com os outros no recôndito de seus lares, assim como as moças? Aprendiam com as preceptoras? Por que essas cenas, uma vez, também ocorridas com aqueles que vestem azul, não eram retratadas na pintura e nem narradas na literatura? Seriam os rapazes bailarinos por natureza? Talvez haja mais invisibilidades do mundo dos homens na arte e na literatura do que possa sonhar a nossa  filosofia...

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