terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Tempo e memória

 TECNOLOGIA, TEMPO e MEMÓRIA


Ferramentas do Facebook encarregadas em  ondear-nos lembranças à praia da memória e armazenar permanentemente atividades vivenciadas em nossa linha do tempo, oferece-nos uma possibilidade que na literatura estaria na órbita do realismo fantástico: A de intervirmos em fatos passados, alterando-os, acrescentando-os, subtraindo-os e neles modificando, inclusive, a nós mesmos.. Esse fenômeno nos atualiza acerca do que se iniciou desde os tempos remotos das cavernas: A tecnologia como repositório da memória. Os livros que são uma tecnologia, a arte, sempre tiveram o condão de cumprirem essa função. No entanto, aqui temos algo feito em um formato absolutamente novo e para os nossos ancestrais, inusitado: A possibilidade de interagirmos com memórias do cotidiano, elevando-as ao fantástico e desafiando os herméticos vagões do tempo, esses que levam os nomes de passado, presente e futuro. Dito de outro modo: a edição automática e instantânea das memórias no tempo.  Digitamos um ou mais algoritmos e, de repente, solapamos o que antes era da ordem do mistério e já havia se cristalizado como relicário exclusivo dos deuses.


Estava relendo Borges por esses dias e em um de seus "memoráveis" contos ele nos diz "Lo recuerdo (yo no tengo derecho a pronunciar ese verbo sagrado...)"...


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Tela: a Persistência da Memória de Salvador Dalí.


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