domingo, 19 de abril de 2015

Victor Meirelles

Moema de Caramuru

Furtivo o sol, por entre a selva,
nos teus olhos
uma mancha de céu me perseguia
e eu, airosa índia, tez da relva,
na indolência da tarde
de ti fugia...

Jorrado em sêmen, o teu anzol
fisgou meu ventre
que não sacia,
fazendo-me tua no arrebol,
vestindo-me as penas
que eu não queria.

Assim, na noite,
o branco em chamas,
flama em teu corpo me possuía,
com a manhã aprisionaste
o meu amor
que já ardia,
até partires, ceifando em sangue
um coração
que se partia.

Em desespero,
lancei-me ao mar
que aos teus braços
me levaria,
sonhando o amor
quis te buscar
onde jamais
me buscarias.

Ao te avistar
em teu navio,
nadei com o ardor
da vã poesia
e fatigada,
fui me afogando,
enquanto, ao longe,
inanimado,
o teu olhar se despedia.

Andrea Campos

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