terça-feira, 21 de abril de 2015

18. 


Aqui te amo.
Nos obscuros pinheiros se desenlaça o vento,
A lua fosforesce sobre as águas errantes.
Andam dias iguais perseguindo-se.

Vincent

A névoa se desenha em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata se descola do ocaso.
Às vezes uma vela. Altas, altas estrelas.
Ou a cruz negra de um barco.
Só.
Às vezes amanheço, e até minh'alma está úmida.
Soa, ressoa o mar distante.
Este é um porto.

Aqui te amo.

Aqui te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou te amando ainda entre estas frias coisas.
Às vezes vão meus beijos nestes barcos graves,
que correm pelo mar até aonde não chegam.


Já me creio esquecido como essas velhas âncoras.
São mais tristes os portos ao atracar da tarde.
Cansa-se minha vida,  faminta inutilmente.
Amo o que não tenho. Tu estás tão distante.
Meu tédio mede forças com os lentos crepúsculos.
Mas a noite chega e canta para mim.
A lua faz girar sua roda de sonho.


Me olham com teus olhos as estrelas maiores.
E ainda porque te amo, os pinheiros, no vento
querem cantar teu nome com suas folhas de cobre.


Pablo Neruda in "20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada"

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